São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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CD-ROM 'redescobre' o Brasil

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguém duvida que há uma história brasileira subterrânea, e que a contada em livros é a dos vencedores? A começar pelo descobrimento, cantado em prosa e verso nos quatro cantos pátrios.
Como um navegador português "descobriu" casualmente uma terra já habitada por aproximadamente 8 milhões de nativos?
Diante da tirania das versões oficiais, dois amigos, um sociólogo e um historiador idealizaram o ousado projeto: recontar a história do Brasil.
Desta vez, os protagonistas não seriam reis ou presidentes, mas o povo. Em outras palavras, saem de foco as conspirações da "casa grande", e entram os batuques da "senzala".
O resultado pode ser conferido no livro e CD-ROM "Viagem pela História do Brasil" (Companhia das Letras), de Jorge Caldeira, Flávio de Carvalho, Cláudio Marcondes e Sérgio Goes de Paula.
Dividiu-se a história brasileira em 12 capítulos (1.200 temas), a começar pelos "Primeiros Encontros" (não "A Descoberta") até o capítulo "Regime Militar".
Foram consultadas 30 mil ilustrações, "a maior pesquisa iconográfica já feita no país", afirma o jornalista e sociólogo Jorge Caldeira ("Noel Rosa, de Costas para o Mar" e "Mauá, Empresário do Império").
Caldeira, 41, cuja biografia "Mauá" (1994) já vendeu 110 mil exemplares -e será adaptado para o cinema por Fernando Meireles-, assina a direção do projeto.
*
Folha - Costuma-se dizer que nossa história é medíocre e sem heróis. Não há estágios revolucionários, mas reformistas. Você concorda?
Jorge Caldeira - O que se conta de história do Brasil é uma grande besteira. Ela é fantástica. A ditadura fez a gente desaprender história. Nos passou a imagem de um povo preguiçoso. Rebaixou o brasileiro a um nível insuportável. O barato do Brasil é o brasileiro. Por isso, o livro traz tantas ilustrações. Queremos mostrar a cara do brasileiro. Folha - Vocês assumem que o livro é uma interpretação?
Caldeira - Não é um livro didático, mas uma mera interpretação baseada no Brasil democrático. Nossa história foi feita por casamentos. No começo, não se matou índio, se casou com ele. Com nossa mata tropical, os europeus não sabiam o que comer, o que plantar. Quem sabia? Os índios. Tiveram de se aliar a eles, por meio de casamentos. É uma base não tão autoritária.
Folha - Isso gerou o jeito brasileiro de ser?
Caldeira - O Brasil é um país de poucas guerras. Temos tradição de fazer acordos. É um país civilizado pelo cidadão comum, não só pela elite.
Folha - Mas é um país com resquícios autoritários.
Caldeira - Que apareceram com a escravidão, quando a relação mudou: quem está em cima despreza quem está embaixo. O CD conta não só a história dos ciclos econômicos, mas do povo.
Folha - Esta é a razão do capítulo dedicado aos "tropeiros"?
Caldeira - Quando se fala em século 18, pensa-se em Nordeste e no ciclo da cana. Mas o Brasil já estava integrado de norte a sul pelo seu povo, como os "tropeiros".
Folha - Por que não há, no CD, um índice das músicas?
Caldeira - Elas estão escondidas, para o cara ler um pouco de história, não ficar só se divertindo.

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