São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Bossa Nova divide espaço com AI-5

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como contar a história de um país? Por meio de análises de medidas publicadas em diários oficiais ou enumerando as mudanças de comportamento oferecidas por conflitos pessoais?
O que mudou o Brasil nos anos 60? O resultado da política monetária de Roberto Campos ou a vaia em Caetano Veloso?
A balança sempre pesou para os índices econômicos, em detrimento das transformações dos hábitos sociais. "Viagem pela História do Brasil" procura sanar a carência gerada por um sistema de ensino autoritário e preconceituoso -e a Bossa Nova ganha tanta importância quanto o Plano de Metas do governo Kubitschek.
Registrar a gravação de "Pelo Telefone" (1917), citar a importância do tablóide "O Pasquim" e dos festivais da TV Record são, na opinião dos autores do livro, fundamentais para entender o Brasil.
O livro e o CD priorizam o homem; o segundo capítulo é dedicado exclusivamente aos índios, negros e brancos. Procura-se registrar as características culturais de cada etnia residente no Brasil.
No CD, embutidos nos 12 capítulos, existem links, além do "texto principal", que levam o usuário aos sub-diretórios "almanaques", "biografias" e "documentos".
Em "documentos", encontram-se textos na íntegra, como o Tratado de Tordesilhas e os AI-1, AI-2 e AI-5 (Atos Institucionais do Regime Militar).
Muitos "documentos" são do mesmo período do fato narrado.
Por exemplo, para falar dos costumes sexuais dos índios, utilizam-se os escritos de 1587 de Gabriel Soares de Souza, um senhor de engenho que escrevia sobre os tupinambás. "Quando o marido quer se juntar com qualquer delas (as índias), vai se lançar com ela na rede, onde se detêm só aquele espaço deste contentamento, e torna-se para o seu lugar... e por nenhum caso se entrega a dama a seu marido enquanto lhe não vem seu costume..."
Talvez o usuário comum, acostumado com CDs norte-americanos que estão no mercado, sinta a ausência de pirotecnia virtual. Mas a qualidade do texto e das ilustrações salta aos olhos.

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