São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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Circo da reunião lembra o da Fórmula-1, mas sem os lucros

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O G-7 se parece cada vez mais com a Fórmula-1, descrita como um grande circo pela mídia.
É assim também nos encontros dos governantes dos sete países mais ricos do mundo, aos quais este ano se incorpora Boris Ieltsin, o presidente russo.
Carros, como na F-1, não faltam. Anteontem, um cargueiro desembarcou em Denver oito enormes limusines blindadas, destinadas a transportar os governantes.
Não falta igualmente o pessoal que, como os mecânicos, faz o trabalho duro, mas não aparece. No G-7, são chamados de "sherpas", a designação dos guias do Nepal que carregam a bagagem de quem pretende subir o Himalaia.
Os "sherpas" fazem o trabalho pesado de discutir, o ano inteiro, cada vírgula do documento final a ser assinado pelos seus chefes. Para Denver, já resolveram 95% do texto de 15 páginas.
Como no GP de Mônaco, o G-7 atrapalha um bocado o trânsito. Só a Interestadual 70, que liga o aeroporto ao centro, teve 11 km interditados ontem, para a passagem das últimas comitivas a chegar.
O outro circo
Mas a segurança é incomparavelmente maior do que na F-1. Só os japoneses trouxeram cem agentes, para se incorporar ao lote de norte-americanos que usaram um caminhão de 18 rodas para transportar para Denver equipamentos de comunicação e computação.
O que é não é muito quando se sabe que, em maio, foram presas três pessoas em Denver, supostos membros da "Primeira Divisão de Infantaria Leve do Colorado" (Estado em que fica Denver).
É uma das milícias de extrema-direita, cujo mais notório representante, Timothy McVeigh, foi condenado, exatamente em Denver, pelo atentado a bomba que matou 168 pessoas em Oklahoma, há dois anos.
O circo do G-7 é sempre acompanhado pelo circo da "Outra Cúpula", um conjunto de manifestações que, desde 1988, se realiza paralelamente à cúpula oficial.
Este ano, inclui o "Banquete do Povo", para sublinhar as disparidades entre ricos e pobres, e a "Cúpula da Paz", que prega a abolição das armas nucleares até 2000.
A idéia é "mostrar os problemas de políticas econômicas que beneficiam os lucros em vez do povo", diz Bill Vandenberg, da Coalizão Progressista do Colorado, um dos organizadores.
Não deixa de ter razão, ao menos no detalhe: os sem-teto de Denver (cerca de 1.200) foram proibidos de dormir no Centro Cívico, seu ponto preferido para passar a noite e, agora, área de segurança.
Manifestações é o que menos falta: ontem, por exemplo, os exilados iranianos na região de Denver promoveram a sua própria marcha, para pedir embargo comercial contra o regime dos aiatolás.
A grande diferença entre os circos da F-1 e do G-7 está nos lucros: a Fórmula-1 é um sucesso comercial formidável. Já a cúpula de Denver custou algo em torno de US$ 20 milhões, entre dinheiro público e privado.
Mas seus organizadores não esperam mais do que US$ 8 milhões em gastos dos participantes, entre eles os 3.000 jornalistas credenciados, que, este ano, têm direito até a tratamento grátis de beleza no centro de imprensa.
(CR)

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