São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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INVESTIGAÇÃO MELANCÓLICA

Ficam cada vez mais evidentes os sinais de que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que deveria esclarecer o escândalo de compra e venda de votos em favor da emenda da reeleição, vai trabalhar para nada concluir. Em primeiro lugar, o peessedebista Almino Affonso, designado como primeiro relator, desistiu da missão, afirmando que a comissão não disporia de nenhum poder efetivo para levar a cabo uma investigação que fosse minimamente séria.
Suas suspeitas vêm-se confirmando, como era esperado. Os dois principais envolvidos, que chegaram mesmo a confessar ter recebido propina por votos favoráveis à emenda, renunciaram a seus mandatos de deputado para não serem cassados (o que implicaria inelegibilidade por prazo mais dilatado) e agora mantêm-se em completo silêncio. Os chamados intermediários, os governadores do Acre e do Amazonas, recusam-se a depor e a comissão não tem poder para intimá-los a fazê-lo.
Por fim, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, apontado nas gravações como um dos arquitetos de todo o esquema, compareceu a uma comissão e deu um depoimento do qual ninguém esperava nenhum contraditório ou informação nova minimamente relevante, sem contestações consistentes.
Como esta Folha já afirmou inúmeras vezes, uma CPI, com todos os problemas intrínsecos que esse tipo de investigação traz consigo, seria a melhor maneira de comprovar ou não os graves fatos relatados nas fitas divulgadas por este jornal.
Tentar abafar a CPI e relegar o inquérito à comissão da CCJ da Câmara são formas de o governo peessedebista corroer sua própria imagem, que sempre afirmou ser mais ética que a das legendas em geral.
Se, como o governo tanto apregoa, nada fez de ilícito ou condenável, seria desejável que fosse o primeiro a apoiar a CPI dos corruptores, entre tantas outras que cabem neste país.

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