São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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APOSTA FRANCESA

O programa do novo governo francês reafirma os planos anunciados na campanha eleitoral pelo Partido Socialista (PS), os quais, vitoriosos nas urnas, causaram alvoroço na política européia.
Jospin prega uma "Europa social": a unificação monetária não deve ser levada a cabo em detrimento do sistema de proteção social e do nível de emprego. Na cúpula européia de Amsterdã, o novo premiê francês não conseguiu mais do que a promessa de que os temas sociais serão discutidos com mais ênfase. Na prática, foi aprovado o pacto de estabilidade, que reitera a austeridade das metas fiscais e monetárias do Tratado de Maastricht. Os franceses deixaram a reunião de Amsterdã dizendo que ainda vão defender uma flexibilização desses critérios.
O anúncio do programa de governo francês, logo após a reunião de Amsterdã, reafirma as intenções "sociais" de Jospin. Entre os planos dos socialistas está o de revisar ou parar o programa de privatizações e a redução da jornada de trabalho sem que sejam diminuídos os salários. Pretende-se também que o setor público, em vez de cortar funcionários, passe a empregar mais. Entre as medidas principais também está uma redução de impostos. Não ficou claro de onde viriam os recursos.
Como já observou esta Folha, Jospin tem uma complexa equação para resolver. Parece improvável que o premiê socialista consiga reduzir o déficit público com esse conjunto de medidas e, assim, não se ajustaria aos critérios da união monetária. E é ainda muito mais do que duvidoso que a França desista da unificação monetária. No entanto, um recuo em relação aos princípios do partido desmoralizaria os socialistas.
O caminho possível seria a tão falada flexibilização dos critérios da unificação monetária. A negociação com a Alemanha para diminuir o rigor de Maastricht já será difícil; um grande aumento do déficit público francês a tornaria impossível e provocaria uma contencioso. Em resumo: se Jospin governar para adotar a moeda única e evitar uma crise européia, terá de enfrentar um problema com seu eleitorado.

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