São Paulo, sábado, 21 de junho de 1997
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O inspetor Otoch

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Se havia alguma dúvida sobre como funcionaria a investigação sobre a compra de votos a favor da emenda da reeleição, o deputado Nelson Otoch (PSDB-CE) acaba de esclarecer de uma vez os seus métodos.
Otoch, um parlamentar de quem nunca o leitor tinha ouvido falar até outro dia, é membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e relator do caso dos votos.
Ao assumir a função, Otoch (pronuncia-se "o-tó-xi") disse algo que parecia ser uma sandice. Afirmou que investigaria a fundo o crime que FHC deseja ver para sempre enterrado.
Era, no mínimo, curiosa a declaração de Otoch.
A CCJ não tem poderes para convocar pessoas. Não pode abrir sigilos bancários e telefônicos. Enfim, o relator depende da providência divina.
Quais seriam, então, os segredos desse inspetor Clouseau cearense para conseguir ir "fundo" nas investigações, conforme tem prometido?
Isso ele revelou na última quarta-feira, quando resolveu investigar. Telefonou para Claudio Julio Tognolli, jornalista e amigo fraterno do repórter que escreve esta coluna.
Embora não seja do seu estilo, o valente relator da CCJ iniciou seu contato com uma conversa mole. Depois, certificando-se da amizade entre Tognolli e este jornalista, Otoch emendou com a pergunta que mais lhe interessava: "Você sabe quem é o Senhor X?"
Tognolli, que não sabe quem é o "Senhor X", relatou o episódio aos risos para este repórter.
Procurado, Otoch confirmou sua ação investigatória. Mas indignou-se com a interpelação: "O sr. não tem o direito de fazer esse tipo de pergunta impertinente para mim". Tudo bem.
Dada a exasperação do relator, não pude concluir minha edificante conversa com ele ao telefone. É uma pena.
Concluo, portanto, agora: estou à disposição da CCJ para colaborar com esse surreal esforço investigativo. Meus amigos e familiares já foram avisados para atender prontamente os telefonemas do diligente deputado Nelson Otoch, o Peter Sellers do sertão.

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