São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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Desempregado tenta virar patrão

PRISCILA LAMBERT
DA REPORTAGEM LOCAL

A dificuldade de reposicionamento de um profissional com 50 anos de idade no mercado é uma das causas que leva à queda do poder aquisitivo de muitos paulistanos, entre eles Ernane Ferreira Alves Jr., 51.
Para driblar o desemprego de três anos, depois de uma longa carreira como executivo, Alves Jr. resolveu abrir, no ano passado, uma microempresa que fabrica peças técnicas para o mercado publicitário.
O profissional engrossa a lista das cerca de 107 mil microempresas abertas no país no ano passado -dados do DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio)- e confirma a tendência de que, para muitos profissionais, a única saída para driblar o desemprego é abrir um negócio próprio.
Formado em engenharia, matemática e arquitetura, Alves Jr. computa outros 70 cursos de extensão universitária em seu currículo. "Sempre pensei que, quando faltasse emprego, essas especializações iriam me ajudar a voltar para o mercado em boa posição. Estava enganado."
Ele trabalhou em várias companhias, trocando de emprego em função de melhores salários, satisfação profissional e crescimento social. Ganhava mais de 20 salários mínimos.
Em 93, a empresa em que trabalhava por três anos restringiu suas atividades comerciais e ele foi demitido.
A partir de então começou sua maratona: mandou mais de 500 currículos, procurou o serviço de "headhunters", mas só recebia propostas de empregos com salários que chegavam, no máximo, a 50% do que ganhava.
Para sustentar a casa e seus três filhos em idade escolar, Alves Jr. passou a dar consultoria na área de vendas e de construção.
Dois de seus filhos, que cursam o colegial em escolas particulares, tiveram de recorrer a bolsas de estudo. Sua filha mais nova, que está na 4ª série do 1º grau, teve de ser transferida de uma escola bem conceituada -e cara- para outra mais barata.
A microempresa, segundo ele, ainda está indo muito devagar. "Nem sempre tenho clientes, por isso, paralelamente, dou consultoria a outras empresas."
Hoje, somando seus rendimentos, sua renda chega a 35% do que costumava ganhar no auge de sua carreira, o equivalente, segundo ele, a "pouco mais de dez salários mínimos".
"Trabalho para pagar as contas. Restringi meus gastos, cortei os luxos e segurei as pontas com meu trabalho de autônomo."

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