São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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Reunião do Mercosul acentua divergências

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

As divergências entre os quatro países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) foram explicitadas pelas negociações realizadas na última semana, em Assunção (capital paraguaia).
Os sócios desse bloco econômico concordaram que é preciso priorizar a consolidação da união aduaneira, o que significa discutir tópicos das políticas econômicas internas de cada país.
"Começamos a nos meter na vida dos outros países, o que não é fácil de se adaptar. Nenhum país gosta que um outro venha lhe dizer como as leis devem ser feitas", disse o secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina e principal negociador do país junto ao Mercosul, Jorge Campbell.
As concessões de subsídios serão um dos pontos mais polêmicos da nova agenda do Mercosul.
Na reunião de ministros da área econômica e chanceleres, o Brasil fez uma reclamação formal contra a legislação paraguaia que permite às novas indústrias instaladas no país importar máquinas e insumos com alíquota zero.
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, afirmou que isso prejudica a competitividade dos produtos brasileiros no Mercosul e em outras regiões do mundo.
Mas o Brasil também foi criticado (principalmente pela Argentina) por conceder subsídios financeiros para o setor sucroalcooleiro e vantagens fiscais para o setor automotivo -o que está atraindo montadoras para o país.
Os técnicos do Ministério da Indústria e do Comércio que participaram das negociações de Assunção acham difícil que esses dois pontos da política econômica brasileira sejam alterados no curto prazo, devido às pressões políticas existentes.
Também foi cobrada do Brasil maior flexibilização das leis que regulamentam serviços financeiros e de telecomunicações, pois é o país do Mercosul que tem o mercado mais promissor nesses setores.
"Do ponto de vista argentino, essa flexibilização deve ser rápida. Interessa-nos muito o mercado brasileiro", afirma Campbell, lembrando que a Argentina já fez "um forte processo de desregulamentação" nesses setores.
O embaixador avalia que um protocolo sobre serviços é "uma exigência do processo de integração", mas concorda que essas decisões precisam "respeitar o tempo de cada país".

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