São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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Quando a gente crescer

CLÓVIS ROSSI

Denver (EUA) - O que o Brasil quer ser quando crescer? Até a estabilização da economia, era praticamente inútil fazer esse tipo de pergunta. A baderna provocada pela prolongada superinflação impedia olhar para mais de três meses, quando muito, à frente.
Agora, no entanto, o país está perdendo tempo demais em buscar resposta para essa pergunta vital.
De alguma maneira, as eleições na França e as cúpulas da União Européia e do G-7, na semana que termina, reabriram o pouco que restou de debate político sobre modelos de países.
De um lado, o modelo anglo-saxão, em especial o norte-americano, ultraliberal, muito flexível, inimigo de nascença dos regulamentos excessivos (a Constituição dos EUA é, provavelmente, a mais enxuta do mundo).
Do outro, o modelo da Europa continental, carregado de proteção social, cheio de regulamentos e regras.
Ambos são igualmente capitalistas. Mas não são iguais nem oferecem os mesmos resultados. Os EUA, ao menos nos anos mais recentes, reduziram o desemprego e puseram a economia para crescer. Mas, simultaneamente, aumentaram a brecha entre ricos e pobres, a precariedade nas condições de trabalho e, por extensão, a angústia.
A Europa cresce menos, tem mais desempregados, mas tem, igualmente, proteção social suficiente para produzir sociedades mais homogêneas.
O Brasil parece ter conseguido concentrar o pior dos dois mundos: proteção social baixíssima, elevada desigualdade, enorme pobreza. Se o desemprego é, nos números oficiais, relativamente modesto, deve-se apenas ao fato de que o subemprego mascara a realidade.
Dando de barato que a inventividade do brasileiro não é tanta que possa criar uma terceira via entre os dois modelos, não é hora de universidades, entidades da sociedade civil e bancos de cérebros do governo passarem a pensar no que queremos ser quando (e se) crescermos?

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