São Paulo, domingo, 22 de junho de 1997
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"Maratona" seleciona os franqueados

CLEBER MARTINS; MÔNICA FAVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dinheiro, tempo disponível e perfil empreendedor não são suficientes para abrir uma franquia. No caminho entre a decisão de ser franqueado e a assinatura do contrato, o interessado tem de cumprir uma "maratona" de testes, entrevistas e estágios -que pode demorar mais de um ano.
O "percurso da prova", muitas vezes, é puxado. Os futuros franqueados têm de suar para atender as exigências das empresas, o que inclui pegar no pesado, lavar pratos, cozinhar e esfregar o chão.
Para abrir uma unidade do McDonald's, por exemplo, o interessado precisa passar por um treinamento de 48 semanas nas lojas, aprendendo -e assumindo- a função dos empregados.
"O treinamento é essencial para que ele tenha condições de tocar o negócio", afirma Eduardo Mortari Jr., diretor de franchising da rede.
No início da corrida por uma loja da marca, o treineiro do McDonald's passa primeiro por uma "prova de velocidade" eliminatória: um estágio de três dias. Se não levar jeito para trabalhar em equipe, por exemplo, é desclassificado.
No início, diz José Rubens Macedo Filho, 38, franqueado da rede, "o treinamento assusta, mas é imprescindível. É uma universidade, uma escola de negócios".
Outra rede de fast food que adota o treinamento como critério de seleção é o Bob's. O candidato passa oito meses trabalhando nas lojas.
"O processo serve para criar no franqueado a responsabilidade de empresário", diz Carlos Baish, diretor de franchising do Bob's.
Exige ainda que seus "maratonistas" também gastem energia para localizar, em seis meses, um bom ponto comercial.
Franqueado há oito anos da rede, Morvan Cotrim Duarte, diz que passou por todas as etapas e que hoje se sente "à vontade" para discutir com os funcionários o que está dentro e fora dos padrões.
Também adepto do treinamento, o Habib's pode ser uma opção para aqueles que não possuem fôlego para uma "corrida de fundo" de quase um ano em estágios. O percurso para chegar a uma franquia da rede leva dois meses.
Apesar disso, o esforço não é menor. "É preciso preparo físico para atividades repetitivas, como montar esfihas", avalia Antônio Mormile, ex-diretor de recursos humanos e treineiro do Habib's.
"Para se tornar um empresário de verdade, o franqueado precisa colocar a mão na massa e passar por todos as funções", afirma Regina Thompson, gerente de franchising da Casa do Pão de Queijo.
Esse estágio dura um mês. Segundo ela, o treineiro aprende como tirar café, servir e ter um bom relacionamento com o cliente.
A fase de treinamento, no entanto, é geralmente uma das últimas no processo. Antes, há questionários, entrevistas, testes e cursos, normalmente sobre a estrutura e serviços da empresa, administração, marketing e RH.
A rede Jacques Janine, por exemplo, faz um teste prático para avaliar a habilidade do futuro franqueado, que deve ser, obrigatoriamente, cabeleireiro. "Não é grande o índice de reprovados, mas já chegamos a recusar quem não tinha um bom trabalho", informa Cláudia Dutra, do Jacques Janine.
Um dos métodos adotados pela SOS Computadores, Casa do Strogonoff e Fran's Café é o preenchimento de um questionário. Nele, o candidato assinala palavras com as quais mais se identifica.
"Os principais motivos de exclusão de pretendentes são o perfil inadequado (leia quadro ao lado) e a falta de habilidade com público", diz Renata Fortes, diretora da Marché, que assessora as marcas.
Em alguns casos, como o do McDonald's, conta até a idade e o nível de escolaridade para selecionar os franqueados da rede. Sem isso, não chegam nem a largar na corrida.
(CLEBER MARTINS)

Colaborou Mônica Favero, do Banco de Dados

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