São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Versão oficial da morte de PC 'caducou'

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

23 de junho de 1996. Os corpos de Paulo César Farias e da namorada Suzana Marcolino são encontrados na casa de praia do empresário em Guaxuma, próximo a Maceió. Em poucas horas, a Polícia Civil de Alagoas dá sua versão: crime passional seguido de suicídio.
23 de junho de 1997. Passado um ano, as explicações da polícia alagoana sobre o caso "caducaram" com as descobertas feitas sobre a vida de PC e a morte dele e da namorada. No lugar da certeza, ficou o mistério. Leia por quê.
*
Paixão e crime - A tese da motivação passional do crime era baseada em três pontos: Suzana tinha ciúmes de Cláudia Dantas (outra namorada de PC), era desequilibrada emocionalmente e passava dificuldades financeiras.
Mas três fatos descobertos neste ano -todos relacionados às relações do ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello com a máfia- mostram que as causam podem não ter sido tão simples:
1) Seis meses antes do assassinato de PC, o italiano Paulo Sercio, ligado à mesma rede mafiosa que o empresário alagoano, foi encontrado morto em seu apartamento no bairro de Moema, em São Paulo, com um tiro abaixo da axila esquerda. Na época, a Polícia Civil afirmou ter havido suicídio.
A Justiça italiana descobriu que Sercio recebeu depósitos, no Brasil, no valor de US$ 2 milhões do mafioso Angelo Zanetti, caixa de uma rede internacional de narcotráfico que também havia feito remessas de dinheiro para uma conta de PC na Holanda.
A coincidência foi o bastante para a Polícia Federal investigar a morte de Sercio. A PF descobriu que ele foi assassinado. Não havia resíduos de pólvora em suas mãos;
2) Dias antes de morrer, PC se encontrou em Maceió com sócios ligados à máfia e se desentendeu com um deles porque pensava ter sido roubado. A reunião foi descrita em detalhes, em depoimento à Justiça italiana, por um dos presentes ao encontro, que hoje colabora com as investigações;
3) Procurado pela Justiça da Itália por corrupção, o mafioso Domenico Verde foi preso em Maceió, onde construía uma casa próxima àquela onde PC foi morto. Nas investigações feitas pela Itália, descobriu-se que Verde esteve com PC na Tailândia quando o empresário fugiu em 93.
*
Passividade x espancamento - Embasado no laudo feito pelo legista Badan Palhares, da Unicamp, o inquérito da Polícia Civil de Alagoas descartou ter havido confronto físico com PC ou Suzana.
Novos exames feitos por legistas da Paraíba e de São Paulo descobriram manchas no crânio de Suzana. Segundo os legistas, as manchas seriam marcas de espancamento anterior à morte.
*
Sangue no criado-mudo - O laudo de Badan Palhares, no qual o inquérito se baseou, descreve a presença, na cena do crime, de 32 manchas de sangue identificado como sendo de Suzana Marcolino.
Os peritos designados para a nova apuração descobriram, há dois meses, mais uma mancha de sangue, localizada no criado-mudo do quarto que ficava no lado oposto onde foi encontrado o corpo de Suzana. Amostra do material está sendo analisada para identificar se o sangue era de PC, da namorada ou de uma terceira pessoa.
*
Falta de exames - Investigações informais do delegado da PF Pedro Berwanger levantaram indícios de que a cena do crime havia sido "maquiada" e que pistas falsas foram deixadas para a polícia.
Mas a PF concluiu que não teria condições de reivindicar a "federalização" do caso porque ficaria com o ônus de apresentar provas que contrapusessem a versão da polícia alagoana, o que seria praticamente impossível.
Motivo: elementos fundamentais da cena do crime não estavam mais disponíveis, o que prejudicava definitivamente a elucidação do que se passou naquela madrugada.

Texto Anterior: MST busca provas a favor de Rainha
Próximo Texto: Inquéritos da PF sobre o esquema PC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.