São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Estudo retoma idéias de Freire

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A última tese orientada por Paulo Freire foi defendida na quarta-feira passada, na mesma PUC de São Paulo onde o educador lecionou desde o regresso do exílio.
O doutoramento foi de Mario Sergio Cortella, 43, que sucedeu Freire na gestão petista da Secretaria Municipal da Educação de São Paulo (1989-92), quando ele decidiu dedicar-se exclusivamente à redação de livros e a dar palestras.
A dissertação retoma as concepções básicas do trabalho do educador. Articula filosofia e política, questiona as bases ideológicas sobre as quais se desenvolve hoje o fazer pedagógico e -como nas obras mais recentes de Freire- faz isso em um texto didático, dirigido a professores da escola pública.
O primeiro dos quatro capítulos, "Humanidade, Cultura e Conhecimento", lança as idéias que serão trabalhadas no resto da obra. "Eu quis fazer uma antropologia filosófica, que mostrasse que o ser humano é um produto da cultura."
"A ação transformadora consciente (sobre seu meio) é exclusiva do ser humano e a chamamos de trabalho ou práxis; é consequência de um agir intencional que tem por finalidade a alteração da realidade de modo a moldá-la às nossas carências e inventar o ambiente humano", escreve Cortella.
O resultado dessa ação é a cultura, que -para usar uma frase frequente no discurso de Freire- ao mesmo tempo é produzida e produz homens e mulheres.
A escola se insere nesse contexto, como veículo do conhecimento humano. Mas, para o autor, a escola é também "veículo de construção e apropriação do conhecimento". O problema para os educadores é que "a visão sobre o conhecimento molda as concepções e práticas pedagógicas".
O segundo capítulo, "Conhecimento e Verdade: A Matriz da Noção da Descoberta", analisa "a noção mais presente no sistema escolar sobre o conhecimento": a do conhecimento como descoberta.
Cortella retoma os filósofos gregos, em particular Platão, para identificar as origens dessa concepção que, para o autor, é nociva à relação ensino-aprendizagem.
Em síntese, a idéia é de que a escola está tratando o conhecimento como uma verdade colocada a priori. Ou seja, é como se "a verdade" sempre tivesse existido e apenas coubesse a alguns "iluminados" a sua "descoberta".
Essa visão, ao suprimir o conceito inicialmente apresentado de que o conhecimento é um produto cultural -e não existe em separado do ser humano e de seu tempo-, gera uma distorção.
No último capítulo, Cortella retoma a noção do "sentido social concreto do trabalho pedagógico", defendendo o "conhecimento como ferramenta da liberdade e de um poder como amálgama da convivência igualitária.

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