São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Estudos constatam prejuízos à saúde

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Os males provocados pela poluição de São Paulo à saúde não são mera desconfiança. Pesquisas indicam que são concretos e muito mais sérios do que os cabelos ressecados e a pele oleosa denunciados nos anúncios de cosméticos.
Há mais de dez o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo) estuda os efeitos da convivência com os poluentes do ar na região metropolitana. Algumas conclusões:
- A poluição contribui para a morte de fetos com mais de 24 semanas de vida;
- Contribui para a morte de crianças e de pessoas acima dos 65 anos por problemas respiratórios;
- Contribui para aumentar as internações e passagens por prontos-socorros de crianças e idosos por problemas respiratórios;
- Destrói as defesas do sistema respiratório de ratos e, presumivelmente, de seres humanos;
- Quando associada a outros fatores que desencadeiam o câncer, contribui para o aparecimento da doença em ratos, o que presumivelmente se repete com pessoas.
Os primeiros estudos da poluição em São Paulo envolveram cobaias. No início dos anos 90, um grupo de ratos foi colocado para morar na igreja do largo do Paysandu, exposto ao ar poluído do centro. Outro foi levado para Atibaia, cidade vizinha com ar puro.
"Colocando os ratos no centro de São Paulo, conseguimos reproduzir -ou melhor, aproveitar- as condições reais de exposição à poluição", informa Luiz Alberto Amador Pereira, 39, pesquisador do laboratório.
A experiência durou seis meses -meia vida de um rato, o equivalente a 40 anos na vida de um homem. No final, o sistema respiratório das cobaias paulistanas estava comprometido e mais sujeito a infecções; os ratos de Atibaia estavam velhos, mas saudáveis no que se refere ao sistema respiratório.
O grupo da USP partiu em seguida para pesquisas com informações estatísticas sobre a população.
Cruzando dados da Cetesb, estatal que controla a poluição no Estado, com os levantados pela prefeitura sobre mortes e suas causas, uma pesquisa detectou o aumento de mortes em crianças e idosos especialmente em períodos de grande concentração de partículas inaláveis -material sólido tão pequeno que penetra nas vias respiratórias junto com o ar.
"Verificamos que as mortes eram mais prováveis quando havia dias seguidos com alta concentração de partículas inaláveis", conta Pereira. No caso dos idosos, ficou demonstrado que aumento da concentração de partículas em 100 microgramas por metro cúbico de ar gera 13% a mais de mortes.
Pelos padrões da Cetesb, a qualidade do ar é considerada aceitável até 150 microgramas por metro cúbico. Aumento de 100 microgramas gera estado de alerta, quando atividades industriais e circulação de veículos são desaconselhadas.
O estudo mais recente do laboratório da USP mostrou que uma em cada oito mortes de fetos com mais de 24 semanas na cidade de São Paulo está relacionada à poluição.
Em fetos nascidos vivos, constatou presença de carboxihemoglobina no sangue do cordão umbilical. A hemoglobina é a parte do sangue que transporta o oxigênio para o corpo e a presença de carbono ligado à ela indica que a poluição chega ao bebê dentro da barriga da mãe.
(RSc)

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