São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Caetano rebola e imita Carmem Miranda

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Quase 2.500 pessoas lotaram o imponente Avery Fisher Hall, anteontem à noite, em Nova York, para ver o concerto do cantor e compositor baiano Caetano Veloso, pelo JVC Jazz Festival.
Caetano não resistiu à oportunidade. Quebrando o tom sóbrio e camerístico de seu show "Fina Estampa", saiu do palco rebolando e imitando os trejeitos de Carmem Miranda, ao cantar "Rumba Azul" (do cubano Armando Orefiche), já como bis.
Muito à vontade, sem qualquer traço do nervosismo que marcou as primeiras exibições desse show no Brasil, Caetano conversou e brincou muito com a platéia, evidentemente dominada por brasileiros radicados nos Estados Unidos.
No camarim, não foi diferente. Ao lado dos músicos David Byrne e Arto Lindsay, as atrizes Sonia Braga e Amy Irving, o cineasta Bruno Barreto, a cantora Bebel Gilberto, o diretor de teatro Gerald Thomas e o produtor Nelson Motta foram cumprimentar Caetano, após a apresentação.
Com pequenas modificações no repertório, o show exibido em Nova York foi basicamente o mesmo apresentado no Brasil, sem o naipe de cordas incluído na gravação do CD "Fina Estampa ao Vivo".
Caetano abriu a noite com a bilíngue "O Samba e o Tango" (de Amado Regis), canção-síntese do show, que propõe uma releitura sentimental da canção latina sob o ponto de vista da bossa nova.
Língua portuguesa
Com um respeito incomum nessas ocasiões, a ala brazuca da platéia escutou com muita atenção clássicos latinos, como "Capullito de Aleli" (Rafael Hernández), "Cucurrucucú Paloma" (Tomás Méndez) e "Contigo en la Distancia" (Portillo de La Luz).
Mas explodiu em gritos e aplausos ao ouvir o verso inicial do rap "Haiti" (Caetano e Gilberto Gil), primeira canção do show cantada inteiramente em português.
"Eu amo a língua portuguesa e cada uma de suas palavras", disse Caetano, em inglês, seguido por uma nova explosão de palmas dos brasileiros.
Foi em inglês também que o cantor introduziu a valsa "Lábios que Beijei" (Álvaro Nunes e Leonel Azevedo) e o samba "Você Esteve com Meu Bem" (João Gilberto e Antonio Martins) -canções escolhidas para representar a influência do clássico cantor Orlando Silva sobre o papa da bossa.
Saindo do palco no melhor estilo popstar, sugerindo os requebros de Carmem Miranda, Caetano deixou um recado implícito para os norte-americanos.
Quem ainda associa a música brasileira ao exotismo da "pequena notável" está completamente por fora.

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