São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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CD organiza 500 anos de música brasileira

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Que as tribos do Novo Mundo tocavam muita música milhares de anos antes de os portugueses aqui aportarem é fato conhecido. O que espanta saber é que a música "brasileira" -ou seja, a música registrada já no contexto do descobrimento- conte a mesma idade do país, levando-se em conta a notação de melodias indígenas pelos viajantes e as peças catequéticas compostas por Anchieta e Nóbrega na segunda metade do século 16.
Esses registros e toda a tradição musical posterior no Brasil -com as marcas do índio, do branco e do negro sobrepostas com frequência- foram pesquisados para uma coleção de dez CDs, prestes a ser totalmente registrada e industrializada. Talvez a tempo de participar das comemorações que os governos português e brasileiro planejam para os 500 anos do Descobrimento do Brasil no ano 2000.
A autora do projeto, realizado com a colaboração de musicólogos e intérpretes, é a cantora e pesquisadora musical paulistana Anna Maria Kieffer, cujo interesse por música antiga remonta à criação do grupo Confraria, em 1974, e cuja primeira pesquisa no gênero data de 82, com a curadoria do evento "Litoral Sul - Memória e Cultura Popular", para o MIS-SP.
A coleção "Memória Musical Brasileira: os 500 Anos (1500-2000)" privilegia obras para pequenos grupos vocais-instrumentais. São duas caixas contendo cinco discos e um libreto cada, abrangendo dos antigos cantos indígenas a composições contemporâneas que utilizam como núcleo temático cantos próximos aos registrados por Anchieta.
A primeira série de CDs avança cronologicamente até a segunda metade do século anterior, e a segunda série vai até a música de experimentação dos anos 90 (leia quadro abaixo).
Segundo Kieffer, o custo do projeto, aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura, é de R$ 300 mil, com a confecção de um total de 10 mil discos e 2.000 libretos. Cinco dos títulos ainda serão gravados, e dois já foram registrados em estúdio. Os volumes 3, 4 e 7 receberam lançamento comercial anterior, mas encontram-se esgotados.
A pesquisadora pretende lançar o projeto em sua forma original, sem desmembramento. Porém, se os patrocinadores contatados não chegarem à decisão de produzi-los, os discos serão lançados de forma avulsa, pelo selo independente Akron ou por outros interessados.
Além dos discos, o projeto se desdobrou este ano na forma de um curso ("500 Anos de Música no Brasil") com curadoria de Kieffer, oferecido pelo Instituto Cultural Itaú em sete aulas de críticos e compositores (como Gilberto Mendes). Com as vagas esgotadas, o ICI planeja reeditar o curso.

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