São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Sua trajetória foi desigual

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Talvez, sem que ninguém suspeitasse, Roberto Santos tenha identificado sua vida à do cinema brasileiro do seu tempo.
Os primeiros dez anos de sua carreira, a partir de "O Grande Momento" (1957), são quase sempre deslumbrantes, marcados pela inventividade e pela busca de caminhos.
Podia passar de uma adaptação delicada como a de "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (65), de Guimarães Rosa, à comédia "O Homem Nu", de 67, uma adaptação da crônica de Fernando Sabino, como se isso fosse a coisa mais simples do mundo.
Esses foram anos felizes do cinema brasileiro, que parecia acolher bem esse cineasta tão pouco propenso à autopromoção quanto dotado de uma gentileza e de uma generosidade quase escandalosas.
A partir dos anos 70, Roberto parece se interessar muito mais pela formação de seus alunos na ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP, com os quais realiza dois longas: "Vozes do Medo" (69-73) e "As Três Mortes de Solano" (75), ambos bastante apagados, assim como "Um Anjo Mau" (71), feito para a Vera Cruz.
É provável que o livro de Inimá Simões jogue luzes sobre essa trajetória desigual, mas parece quase certo de que o período mais duro do regime militar de algum modo tirou a alegria de filmar de Roberto Santos.
Na sua experiência em filmes publicitários, achou inspiração para o belíssimo, poético e surpreendente "Os Amantes da Chuva", datado de 1978, mas exibido em cinema anos depois (e um fracasso de bilheteria).
Sua morte se deu em 1987, logo após voltar do Festival de Gramado, onde apresentara "Quincas Borba", adaptação do romance de Machado de Assis muito mal recebida na época.
Por cálculo, pelo caráter emocional do episódio, ou pela infeliz coincidência entre o fracasso do filme e a morte do cineasta, tentou-se atribuir o fato à imprensa, versão hoje desacreditada.
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