São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 1997
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Documenta 97 valoriza arquitetura

CELSO FIORAVANTE
ENVIADO ESPECIAL A KASSEL

Os puristas que já haviam se horrorizado com o anúncio do perfil eclético de linguagens que a curadora Catherine David estabeleceu para a 10ª edição da quinquenal mostra Documenta de Kassel, na Alemanha, devem ter ficado ainda mais indignados com o peso que a arquitetura e a ocupação de espaços urbanos recebeu na seleção da curadora.
A começar pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, que, além de participar o evento "100 Dias - 100 Convidados", também está com uma obra na mostra.
Apresenta "New Urbanism: Pearl River Delta", um acúmulo de informações sobrepostas de ordem humana, urbana, social e econômica.
O trabalho remete ao livro "S, M, L, XL" (1995), uma montagem de textos e imagens feita em colaboração com o artista gráfico Bruce Mau. O nome do livro, letras que definem o tamanho das roupas, faz referência à arquitetura como arte que deveria ser feita à medida do homem.
O conceito cai como uma luva para Catherine David, que o usou como um dos preceitos de sua seleção, que denota uma preocupação com a arte como reflexo de questionamentos estéticos, mas também éticos e sociais.
O também holandês Aldo van Eyck possui uma concepção de trabalho muito particular. Seus projetos se baseiam em formas de arquitetura não ocidentais e em uma sabedoria manifestada em construções populares, na tentativa de salientar a arquitetura desenvolvida a partir da integração entre indivíduo e sociedade.
Na Documenta, reapresenta uma montagem de fotos de trabalhos seus e de arquiteturas exemplares da história da humanidade. A montagem, que lembra os cartazes feitos como dever de casa, é constituída por paredes paralelas ou circulares que forçam o indivíduo a entrar em uma espécie de labirinto, feito também para promover encontros e surpresas nos visitantes.
Convidado para falar no evento "Idea as Model", Matta-Clark entrou na sala armado e disparou contra as janelas. Pendurou então essas fotos de janelas quebradas na região sul do Bronx. Sua idéia era denunciar as condições de vida na periferia e chamar a atenção para a urgência de a arquitetura desvincular-se de questões econômicas e optar por questões sociais.
Fotografia
Os fotógrafos Suzanne Lafont, Marc Pataut e Jean-Louis Schoellkopf trabalham com a ocupação do espaço pelo cidadão.
Em uma passagem subterrânea de pedestres, a francesa Lafont realizou uma montagem conceitual em forma de uma grade com pequenos outdoors em que descreve uma rota de imigração por cinco cidades: Istambul, Belgrado, Budapeste, Viena e Frankfurt. Em cada uma das grades coloca fotos da arquitetura das cidades, pessoas e inscrições com o nome das cidades em língua original.
O também francês Pataut se preocupou em registrar, em 1994 e 1995, as alterações urbanas e humanas na região parisiense de Saint-Denis, onde será construído um grande estádio para a Copa do Mundo de 1998.
O fotógrafo canadense Jean-Louis Schoellkopf também se preocupa com a presença humana, mas em um outro espaço: a mídia. Seu trabalho se desenvolve como uma crítica ao déficit de representação do dia-a-dia das pessoas comuns, de sua mesma classe social, nos meios de comunicação e ao desenvolvimento caótico das cidades, segundo o autor, reflexo de uma crise ideológica pela qual a Europa está passando.
Cabelo
O artista brasileiro fez na noite de sexta-feira a primeira apresentação da performance "Cefalópode Heptópode", agora contando com a participação especial de Tunga.
A platéia, mesmo sendo em sua maioria brasileira, se assustou com o fogo que ardia pelo chão no final da performance, sob os olhares atentos de seguranças da estação, que temiam por um incêndio no local.
Como era possível se esperar, teve até um alemão que se indignou e protestou -sem resultado- contra o possível trauma -e até morte- dos peixinhos no aquário. Outra diferença foi a opção por calça comprida e blusa, já que bermuda e camiseta não combinam com o frio noturno de Kassel. A Documenta prossegue até o dia 28 de setembro.

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