São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Cameli diz que discutiu reeleição com FHC

LUIZA DAMÉ
AUGUSTO GAZIR

LUIZA DAMÉ; AUGUSTO GAZIR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Segundo o governador do Acre, outros 15 governadores participaram de reunião com o presidente

O governador Orleir Cameli (sem partido-AC) entrou em contradição com o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), no depoimento que prestou ontem à CCJ (Comissão e Constituição e Justiça) da Câmara sobre a compra de votos a favor da reeleição.
Segunda-feira, Amazonino disse à CCJ que não participou de reuniões com o presidente Fernando Henrique Cardoso para negociar a aprovação da emenda da reeleição na véspera da votação. Ontem, Cameli afirmou que ele e Amazonino estiveram com FHC.
"Tratamos de reeleição com o presidente, uns dois dias antes da votação (da emenda), com mais 15 governadores, inclusive o Amazonino", disse Cameli.
"O Amazonino não mencionou isso porque não deve ter se lembrado", disse Cameli, quando respondia a perguntas de Nelson Otoch (PSDB-CE), relator do processo de cassação de deputados do Acre acusados de vender o voto.
Cameli afirmou que não se lembrava exatamente do dia da reunião. "Não sei se foi na véspera ou na antevéspera da votação", disse. O primeiro turno da reeleição foi no dia 28. Os governadores estiveram com FHC no dia 27 de janeiro.
Segundo ele, os governadores Marcello Alencar (PSDB-RJ), Mário Covas (PSDB-SP), Siqueira Campos (PPB-TO), Waldir Raupp (PMDB-RO), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Roseana Sarney (PFL-MA) estiveram na reunião.
"Não houve contradição. Amazonino disse que não manteve entendimento pessoal com o presidente. Orleir se referiu a uma reunião coletiva", afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE).
Cameli disse que é amigo de Amazonino desde 70. "Temos um relacionamento estreito, mas nunca passou pela minha idéia nem do governador praticar qualquer molecagem em nossos Estados."
Cheque
Cameli negou que tenha participado da compra de votos a favor da reeleição. "Eu já disse que desconheço qualquer tratativa de cooptação de parlamentares."
Em fitas obtidas pela Folha, o ex-deputado Ronivon Santiago disse que ele, o ex-deputado João Maia e os deputados Chicão Brígido (PMDB-AC) -licenciado-, Osmir Lima (PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC) receberam até R$ 200 mil para aprovar a reeleição.
Cameli disse que mantém relações políticas com Osmir e Zila. "Mas o Chicão é meu adversário", afirmou. A CCJ analisa o processo de cassação desses três deputados.
O pagamento dos votos, segundo Ronivon, foi feito por Cameli, com a participação de seu irmão Eládio, diretor da Marmud Cameli, e de Amazonino. "Isso é uma mentira", disse Cameli, quando Otoch perguntou se Eládio teria dado cheques aos deputados.
Cameli disse que negocia diretamente com diretores das construtoras os preços das obras no Acre. "Eu visito os canteiros. Sou fiscal do Estado e gosto de obras."
Ele confirmou reuniões com o ministro Sérgio Motta (Comunicações) para pedir recursos para a BR-364. "Acho que o ministro poderia nos ajudar pelo prestígio e força que tem no governo." Nas gravações, Ronivon diz que a liberação de verbas para rodovias entrou na negociação da reeleição.

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