São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muitos erros e omissões

CELSO PINTO

Qual é o tamanho do buraco nas contas do governo?
A resposta é menos óbvia do que parece. Olhando as contas do Ministério da Fazenda para o governo federal, conclui-se que foi possível gerar um superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) de R$ 3,7 bilhões entre janeiro e abril deste ano. Olhando as mesmas contas medidas pelo Banco Central, o tamanho do superávit cai para irrisórios R$ 118 milhões.
A diferença é crucial. Em termos relativos, o número da Fazenda indica um superávit equivalente a 1,4% do PIB no quadrimestre, o que torna realista a meta de chegar a um superávit do governo central de 0,8% até o final do ano (para gerar um superávit total de 1,5%). Já as contas do BC significam um superávit de 0,04% do PIB, invisível a olho nu, e uma boa razão para olhar as metas do governo com ceticismo.
Quem tem razão?
São duas maneiras de medir a mesma coisa. A Fazenda mede o resultado primário somando as várias receitas do governo central e deduzindo as várias despesas. É o que os economistas chamam de resultado "acima da linha". Já o Banco Central vai buscar as várias formas de financiamento líquido do governo, ou os números "abaixo da linha".
É normal que haja alguma diferença entre os números. No balanço de pagamentos, essa diferença é zerada pela rubrica "erros e omissões", cujo equivalente fiscal chama-se "discrepância estatística". Não faz sentido, contudo, que a diferença chegue às proporções recentes.
O diretor do BC, Francisco Lopes, diz que o tamanho da discrepância levou a um reexame formal das contas. A conclusão foi de que os números do BC, que são a medida oficial de déficit público, são consistentes. O problema estaria com os números da Fazenda, mas não se sabe bem onde nem por quê.
No ano passado, entre janeiro e abril, os números da Fazenda indicavam um superávit primário do governo central de R$ 1,47 bilhão, enquanto o superávit do BC chegava a R$ 2,01 bilhões. A diferença, de R$ 544 milhões, neste caso, funcionava a favor do governo: o número oficial era melhor. Neste ano, a extraordinária diferença de R$ 3,6 bilhões vai contra o governo.
Considerando a diferença do ano passado e a deste ano, a guinada da "discrepância estatística" chegou a R$ 4 bilhões, ou 1,5% do PIB do primeiro quadrimestre. Com distorções estatísticas desse tamanho, qualquer conclusão definitiva sobre os rumos das contas do governo vira um mero palpite.
Cosipa versus estivadores
A temperatura da disputa entre a Cosipa e o Sindicato dos Estivadores de Santos voltará a subir na próxima semana. Depois do impasse e da greve em abril, a Cosipa aceitou temporariamente operar com estivadores do sindicato em seu porto, além de funcionários próprios.
Dia 1º de julho haverá uma rodada decisiva de negociações. Pelo que se sabe, a Cosipa não está disposta a aceitar mão-de-obra fornecida pelo sindicato, mesmo que eles baixem o preço até o nível hoje praticado pela empresa -o que está longe da proposta já feita pelo sindicato. O máximo que a Cosipa estaria disposta a discutir seria usar parcialmente mão-de-obra do sindicato por um breve período de transição, após o que usaria apenas seus funcionários.
A Cosipa alega que o Supremo garantiu seu direito de operar de forma independente. O sindicato sabe que a briga legal não tem futuro, mas quer minimizar suas perdas pelo maior tempo possível.
Os estivadores acusam a Cosipa de intransigência e lembram o exemplo da Ultrafértil, que também opera um terminal privado em Santos e, mesmo assim, acabou de fechar um acordo com os estivadores, mesmo sabendo que traria um custo maior. A Cosipa, que se irritou com o acerto da Ultrafértil, vai à guerra com números.
No período de 15 de abril a 31 de maio, ela mediu produtividade e custos na operação de seus funcionários e dos avulsos fornecidos pelo sindicato. Em média, a quantidade de toneladas embarcadas por homens/dia da Cosipa superou a dos avulsos em 7 vezes na movimentação de minério, 5 vezes em carvão e 2,5 vezes em produtos siderúrgicos. O custo dos avulsos foi 4 vezes maior por tonelada de produtos siderúrgicos, 8 vezes maior em minério e quase 13 vezes maior em carvão.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

Texto Anterior: SP faz cortes e zera déficit
Próximo Texto: Receita confirma comércio ilegal em navios de guerra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.