São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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A pobre Pequim segue modas da rica colônia

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Em Pequim, Hong Kong é chique. Desde que Deng Xiaoping cunhou a frase "Enriquecer é glorioso", o primo rico do sul passou a ditar modas e comportamentos seguidos na capital.
Hábitos de Hong Kong transportam-se para o cenário mais pobre de Pequim, onde alguns preços, como o da passagem de ônibus, são mantidos baixos com subsídios oficiais, política que contrasta com a magra intervenção das autoridades de Hong Kong na economia.
O governo em Pequim esforça-se para filtrar as influências do território. Censura filmes e livros que desafiam o poder do Partido Comunista chinês ou com "exagerado apelo erótico".
Mas a influência de Hong Kong em Pequim é visível no sucesso de seus filmes de artes marciais, nas vendas de seus cantores ou escritores aprovados pelas autoridades comunistas e no uso cada vez mais frequente de palavras e expressões vindas do cantonês, o dialeto do sul da China.
Estudo publicado pela revista "Asiaweek", de Hong Kong, aponta no idioma dos pequineses, o mandarim, cerca de 800 palavras e expressões do cantonês. Um exemplo é a usada para pedir a conta em restaurantes. Pequineses inclinados a mostrar intimidade com a cultura capitalista usam a fórmula "mai tan" (cantonês) em vez de "jie zhang" (mandarim).
No mundo das roupas, as etiquetas de Hong Kong, como Bossini ou Crocodile, abrem lojas em Pequim para aproveitar a expansão do comércio na capital chinesa e lucrar com a tendência de copiar a moda do sul. A música popular de Hong Kong, o "cantopop", misto de letras românticas com apelos de nacionalismo chinês, também invade as lojas. Os campeões de venda formam um grupo chamado "Os Quatro Reis Celestiais": Jacky Cheung, Leon Lai, Andy Lau e Aaron Kwok.
Na literatura, as livrarias de Pequim lucram com as obras de Anita Leung, autora de 80 novelas que enfocam principalmente o sucesso de mulheres no universo do comércio e das finanças. Outro autor de Hong Kong que faz sucesso é Louis Cha, considerado um mestre das novelas de artes marciais. Na escassez de estatísticas do nascente mercado chinês, Cha diz satisfazer-se com em ter vendido "milhões de exemplares".
(JS)

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