São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997 |
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Cabo assume liderança dos praças
PAULO PEIXOTO
Ele se tornou o principal líder por acaso. Evangélico, ele nunca exerceu qualquer atividade política, mas agora se vê envolvido "até a alma em uma negociação que exige muito contorcionismo político". Desde o último dia 13, quando os policiais do Batalhão de Choque da capital mineira se rebelaram e saíram em passeata, ele se envolveu com os rebelados "unicamente" para organizar. "Eu estava na minha sala trabalhando normalmente, quando vi o pessoal saindo para a passeata. Entrei no meio e, de repente, me vi tentando organizar a coisa. Assim virei líder", disse ele, que desde 88 está na PM. O cabo Júlio Gomes era camelô até o início de maio. Ele acumulava a função na Rotam (que faz o policiamento motorizado mais ostensivo) e de vendedor ambulante para aumentar a renda mensal. Ele vendia brinquedos importados, que comprava no Paraguai. "Eu trabalhava um dia na polícia e no dia seguinte, que era minha folga, era camelô. De vez em quando dobrava serviço e acumulava mais folgas para poder viajar para o Paraguai", disse. O trabalho como camelô terminou há quase dois meses. Por ter ferido com cinco tiros um traficante de drogas em uma perseguição policial, foi retirado das ruas e passou a fazer serviços internos, trabalhando diariamente das 8h às 18h. Salário O cabo diz que recebeu líquido no mês passado da polícia R$ 229,87 e que, como vendedor ambulante, retirava por mês mais R$ 400,00. Agora, diz que tem que se esforçar para ganhar como professor de computação essa mesma quantia. Ele trabalha até as 23h. O cabo é casado e tem uma filha. Mora em um imóvel financiado e diz que tem cinco prestações atrasadas. O cabo, que até a primeira passeata não tinha se envolvido com nenhuma articulação -"estava totalmente por fora"-, se tornou o interlocutor da comissão formada dos praças para negociar. Nesse grupo de representantes dos PMs estão os presidentes das associações e clubes dos praças. Mesmo não tendo nenhuma participação nessas entidades, ele assumiu todo o comando nas negociações. Sobre eventuais punições que possa sofrer, diz ter a "convicção" de que está procurando só ajudar e que, se receber alguma punição, vai apenas se defender. "O que eu posso fazer é me defender. É um movimento justo, mas alguém tinha que tentar organizar e negociar. Não sei o porquê, mas me envolvi e não posso mais fugir disso", afirmou. Texto Anterior: Comando se reúne com PMs Próximo Texto: 'Pode haver líder oculto' Índice |
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