São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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'Pode haver líder oculto'

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Como os líderes dos praças podem ser contra determinados atos e não ser obedecidos? Quem, então, estaria incentivando os cerca de 5.000 homens a se manifestar nas ruas?
Essas são as duas linhas de investigações que o alto comando da PM e o Ministério Público de Minas Gerais vão priorizar nas apurações dos fatos.
Existe a suspeita de que "líderes ocultos" estão insuflando os praças a se rebelar, já que os líderes do movimento que estão à frente das negociações com o governo e com o alto comando afirmaram anteontem que perderam o controle sobre a tropa.
O promotor José Fernando Sarabando, da Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial, disse à Agência Folha que "há fortes indícios" de que por trás dos líderes do movimento estão outras pessoas.
"Eles (os coronéis do alto comando) até suspeitam de algumas pessoas, mas não têm como provar", disse o promotor, assinalando que os líderes que estão à frente do movimento estão se expondo e podem pagar "pelos que estão no meio dos praças".
Dois líderes dos praças ouvidos pela Agência Folha não concordam com essa teoria. Eles dizem que alertaram o alto comando sobre os riscos da rebelião e que a insatisfação salarial é que tem motivado os praças a se rebelar.
"Temos tentado controlar. Éramos contra a passeata de ontem (anteontem), fizemos tudo para evitar, até suspendendo a assembléia, mas não teve jeito. Eu sabia que as tropas (os rebelados e os PMs que guardavam o comando geral) não podiam se encontrar", disse o cabo Júlio César Gomes, 27.
O sargento Washington Rodrigues disse que alertou várias vezes o coronel Osvaldo Miranda, novo chefe do Estado-Maior da PM, que havia riscos de confronto se o alto comando sufocasse o movimento.
"Liguei para ele umas cinco ou seis vezes e disse que era um barril de pólvora que poderia explodir no Estado todo".
Rodrigues disse não acreditar que existam outros líderes no meio dos praças. "A insatisfação é geral. Nosso papel sempre foi muito comedido, mas, mesmo assim, ainda conseguimos influir muito no sentido de acalmar o pessoal", disse.
O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Epaminondas Fulgêncio, disse à Agência Folha que a crise na PM é "prioridade absoluta" para o Ministério Público, que não somente acompanha as investigações do comando geral, mas também faz investigação própria.
Sobre a existência de insufladores no meio dos praças, Fulgêncio disse que "é possível" que isso esteja ocorrendo.

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