São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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No topo, Martina Hingis reprova a mídia

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Há um ano, quando ainda não era a número um do ranking mundial, a tenista suíça Martina Hingis, 16, costumava ser a mais amada pelos jornalistas.
Agora, no topo do ranking, posição que ela pretende ocupar por mais dez anos, Hingis está fazendo cara feia para os repórteres que cobrem o torneio de Wimbledon -um dos quatro mais importantes do mundo-, na Inglaterra.
Ontem, abordada pela reportagem da Folha quando terminava sua participação em um evento promovido por um de seus patrocinadores, Hingis disse que despreza a maioria da imprensa.
"Posso ser educada com você porque não o conheço. Mas muitos não têm o meu respeito, já que não me respeitam também", disse.
A bronca dela aumentou desde anteontem, quando a rede de TV britânica BBC editou uma série de imagens que flagram o vento levantando sua saia na quadra.
A seguir, leia os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Você teve um jogo difícil na estréia, vencendo a desconhecida Anne Kremer, de Luxemburgo, por 6/4 e 6/4. O que aconteceu?
Martina Hingis - Joguei mal e deixei que ela jogasse solta, sem pressão. Meu saque não entrou, e isso diminuiu meu ataque. Mas foi um bom começo. Gosto de iniciar um torneio com um jogo difícil. Ajuda a ganhar concentração para as outras partidas.
Folha - Você errou muito o primeiro saque. Acha que isso dificultou as coisas?
Hingis - Sim, mas acho que isso vai ser algo que se repetirá nos meus jogos aqui. Sei que o serviço ainda é o meu golpe mais fraco. Na quadra de grama, preciso forçar sempre para criar alguma dificuldade para a outra jogadora, mesmo que isso me faça errar mais.
Folha - A imprensa destacou sua forma física, que foi uma de suas falhas em Roland Garros, quando perdeu para a croata Iva Majoli. O que mudou em sua preparação?
Hingis - A imprensa sempre destaca coisas erradas. Perdi na França por um problema de atitude. Não estava mais gorda lá nem mais magra aqui. É só mais uma bobagem que falam sobre mim.
Folha - Você se sente incomodada pela imprensa?
Hingis - Acho que já chegou a hora de as pessoas deixarem de me tratar como uma garotinha. Eu me preparei para ser a número um. Agora, sou a número um e mereço ser tratada como a número um.
Folha - Você já liderava o ranking antes do recente afastamento de Steffi Graf. O que falta para se sentir reconhecida?
Hingis - Falta os jornais deixarem de condicionar minha liderança à ausência de Graf. Sei das minhas condições e vou ficar dez anos no topo do ranking, quer eles aceitem ou não.
Folha - Você criticou a BBC pelas imagens mostradas ontem. Quer falar sobre isso?
Hingis - Quero esquecer essa história. Olha, se alguém diz que eu sou bonita, eu gosto e agradeço. Só não quero ser notícia por isso.
Folha - O público parece torcer para uma semifinal entre você e a russa Anna Kournikova (outra tenista considerada bonita). O que você acha?
Hingis - Posso enfrentar qualquer uma. Insistem muito em uma comparação entre nós duas, mas lembram apenas que temos 16 anos. Eu já sou a número um, ela ainda trabalha para subir e não merece essa pressão.
Folha - E como você lida com a pressão? Consegue ter a vida de uma adolescente normal?
Hingis - Não. E nem poderia ser diferente. Não sou uma garota normal, por mais que essa idéia me amedronte. Sei que é difícil ter amigos da minha idade, mas posso esperar.
Folha - Sua mãe ainda controla sua carreira?
Hingis - Ela me ajuda. E ninguém melhor do que ela para isso. Mas sei fazer minhas opiniões prevalecerem.
Folha - Você acaba de assinar um contrato que vai te dar US$ 10 milhões, durante seis anos, jogando com a mesma marca de raquete. Como você administra o dinheiro?
Hingis - Ainda não tenho que me preocupar com isso. Viajo tanto que não sobra tempo para nada. Acho que vou reprogramar meu calendário para o ano que vem para defender os pontos mais importantes que ganhar neste ano e ainda ter um descanso.
Folha - Você acha que Steffi Graf vai mesmo se retirar das quadras?
Hingis - Graf de novo... Olha, se ela parar todos devem prestar uma homenagem a uma das maiores da história. Se ela continuar, será mais uma adversária a ser batida, só isso.

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