São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Nouvelle vague quebrou mitos e redescobriu clássicos

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ao pé da letra, "nouvelle vague" quer dizer "nova onda". No Brasil, o movimento poderia muito bem se chamar bossa nova, ou cinema novo.
Na verdade, a analogia mais pertinente é mesmo com a bossa nova. Entre nós, o movimento musical operou uma ampla releitura da tradição do samba, a assimilação de influências norte-americanas e a rejeição do samba-canção.
Na França, um grupo de jovens críticos, reunidos em torno de André Bazin na revista "Cahiers du Cinéma", dedicou-se desde o início dos anos 50 a rejeitar o mito da superioridade do cinema francês "de qualidade" e a uma ampla releitura do cinema americano.
Clássicos
Desse trabalho emergiram as "descobertas" de cineastas até então tido apenas como comerciais (Hitchcock, Howard Hawks) ou decadentes (Fritz Lang), e a partir daí reconhecidos como pilares do classicismo.
Ao mesmo tempo, procedeu-se a uma ampla revisão do cinema francês.
Jean Renoir, então desprezado, tornou-se o pai do grupo, enquanto diretores de enorme prestígio, como Henri-Georges Clouzot, padeciam sob a pena feroz de François Truffaut.
Por fim, a idéia de modernidade defendida por André Bazin -que tinha como apoios centrais Orson Welles, nos Estados Unidos, e Roberto Rossellini, na Itália- foi assumida pelo grupo dos chamados "jovens turcos".
No fim dos anos 50, o grupo de críticos passa à realização de longas-metragens.
Claude Chabrol ("Le Beau Serge"), François Truffaut ("Os Incompreendidos"), Jean-Luc Godard ("Acossado"), Jacques Rivette ("Paris Nous Appartient") e Eric Rohmer ("O Signo do Leão") criam novas normas para a produção.
Basicamente, optaram pela produção leve, com filmagem em locação e não em estúdios.
Tinham em comum a preocupação realista e a obsessão de contar histórias sobre seres reais e situações do cotidiano.
O núcleo central da nouvelle vague logo agregou um grupo de outros jovens realizadores, como Agnès Varda, Alain Resnais, Jacques Demy e Louis Malle, entre outros.
Se trouxe novidades em termos de produção (sobretudo) e realização, a nouvelle vague impõe-se como o primeiro encontro sistemático entre crítica e realização.
A partir dali ficava claro que o novo implicava respeito e conhecimento da tradição.
O cinema dobrava-se sobre sua própria história e tratava de reencontrá-la, para avançar.
Não será por acaso que François Truffaut afirma ter buscado inspiração para seu "Jules e Jim - Uma Mulher para Dois" em "Madrugada da Traição", um pequeno faroeste onde Edgar G. Ullmer contava, em linhas gerais, a história de uma mulher apaixonada ao mesmo tempo por dois homens, ambos simpáticos.
(IA)

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