São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Diane Schuur se aventura pelo blues

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O desfile de grandes vozes femininas continua no Bourbon Street. Depois de Lavelle White, chegou a vez da cantora, compositora e pianista norte-americana Diane Schuur, que toca nos dias hoje, amanhã e sábado na casa.
Essa será a quarta vez que a cantora -cega devido a um acidente no hospital onde nasceu- se apresenta em palcos brasileiros.
Com seu nome associado ao jazz, Schuur traz na mala um repertório "blueseiro", baseado em "Blues for Schuur", seu último CD.
"Faço uma abordagem próxima da que Dinah Washington (1924-1963) faria. Esse disco é sobre ela, uma homenagem", disse Schuur à Folha, por telefone.
Dona de comprovada competência para interpretar o jazz, a cantora pisa em terreno arenoso ao se aventurar pelo blues. Mas parece saber o que está fazendo.
"O jazz é muito mais eclético. A maioria das músicas nesse estilo possui muito mais mudanças de acordes. O blues é mais básico. O grande mérito desse disco foi ter feito uma mistura dos dois."
A cantora fala sobre as necessidades práticas para tornar convincente o seu canto no blues.
"Para cantar esse estilo, a pessoa deve saber interpretar a tristeza. E eu carrego meu próprio fardo. Ser cega, por exemplo, ajuda a encontrar o ponto certo da interpretação no blues. "
Além de fornecer uma nova experiência musical para Schuur, o repertório blueseiro também é uma chance para ela galgar novos degraus na sua evolução vocal.
E cantar novos estilos é o único método que ela usa para tornar sua interpretação mais completa. Schuur não segue programa de treinamento vocal.
"Tudo o que eu faço é tomar conta de mim. Tomo muita água. Não tenho paciência para ficar repetindo exercícios vocais."
Washington
Os fãs do lado mais jazzístico da cantora não sairão decepcionados do Bourbon. Apesar do repertório do último CD, ela jamais abandona o viés jazzístico.
"Quando eu tinha três ou quatro anos, pegava músicas como 'Unforgetable' e 'I Left My Heart in San Francisco' e ficava tentando cantar como Dinah Washington."
Cantando profissionalmente desde os nove anos e compondo aos 16, Schuur teve sua primeira grande chance em 1975, quando participou do Monterey Jazz Festival ao lado da orquestra do baterista Ed Shaugnessy. Naquela ocasião, teve a oportunidade de conhecer e cantar com o trompetista Dizzy Gillespie (1917-1993).
A fama veio quatro anos depois, no mesmo festival. Ela cantou duas músicas com o saxofonista Stan Getz (1927-1991), que começou a alardear o talento de Schuur.
Casa Branca
Getz decidiu incentivar a carreira de Schuur e levou-a para um concerto na Casa Branca. Cantando com Getz, Schuur diz que aprendeu como interpretar uma canção e como ir construindo o canto, evitando um excesso de notas desde o começo.
"Aprendi com ele que é preciso primeiro erguer uma melodia. Depois, é só fazer a decoração a partir dela." Depois de vários e bem vendidos discos solo e de cantar com a orquestra de Count Basie, a cantora encontrou outro colaborador marcante em 1994.
Trata-se do guitarrista de blues B.B. King, com quem ela gravou "Heart to Heart". Esse disco virou um prelúdio do último CD da cantora. A diferença é que, no trabalho com King, em vez de aprofundar seu lado blueseiro, ela extrai o que há de jazz do guitarrista.
Lembrando o tempo em que cantou com Basie, Schuur fala sobre a diferença entre estar na frente de muitos músicos e em pequenas formações, como a que ela traz ao Brasil (baixo, bateria, guitarra e a própria Schuur ao piano).
"Em um grupo pequeno, você pode esticar as canções se quiser. Na orquestra, às vezes, eu tento soar como um instrumento, fazendo 'scats' (canto onomatopéico, sem palavras)".

Show: Diane Schuur
Quando: 26, 27 e 28 de junho, às 21h45
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 011/5561-1643 Quanto: de R$ 30 a R$ 65

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