São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997 |
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Biografia de Isabella mira seus públicos
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
"Você não é a filha da atriz Ingrid Bergman?", pergunta um. "Seu pai, o grande cineasta Roberto Rossellini, foi um gênio", diz um segundo. "Você não é a atriz de 'Veludo Azul'?", indaga um terceiro. Ou simplesmente comenta: "Você é a garota da Lancôme". O grupo que a identifica como a filha de Ingrid Bergman é de pessoas de classe média, 60 anos de idade. O que a chama de filha de Rossellini, de intelectuais amantes da cultura européia. O de "Veludo Azul", de liberais de 35 anos. O da Lancôme, de mulheres de 25 a 60. "Tento matar um pouco a curiosidade de cada um dos meus fãs, que abrangem vários grupos diferentes", disse Isabella à Folha, durante sessão de autógrafos que lotou a Barnes & Nobles em Nova York, provocando fila na entrada da livraria, na Quinta Avenida. Isabella fala um pouco de cada uma das fases de sua vida e conta passagens interessantes, que ela mesma não consegue explicar. Uma delas foi a decisão de chamar sua filha de Elettra Ingrid. "Foi uma forma de homenagear meus pais. Minha avó paterna se chamava Elettra, e minha mãe, Ingrid", conta Rossellini. "Até hoje muita gente me pergunta como eu pude chamar minha filha de Elettra, o oposto do complexo de Édipo. No fundo, eu mesma não sei. Talvez tenha sido mesmo, como diria Freud, uma coisa do meu inconsciente. Eu tinha fascinação pelo meu pai." Roberto Rossellini é descrito como "uma mãe judia", mas que amava passar o dia na cama. "Mais do que qualquer coisa, eu me lembro de meu pai deitado." A receita de Ingrid Bergman para se tornar uma boa atriz merece menção. A primeira exigência era ter boa saúde. "Mas para levar uma vida feliz, além de boa saúde, ela dizia que era importante ter memória curta." Isabella fala muito da morte. Em uma das paredes de sua casa, mantém retratos de seus antepassados. Não por mera coincidência, o livro é dedicado aos "fantasmas" de sua existência. "Tenho conversas imaginárias com meus mortos quase que diariamente." A carreira Uma das principais partes da obra é dedicada a seu trabalho como modelo exclusivo da Lancôme por 14 anos, até que fosse demitida "por ter ousado passar dos 40". O contrato incluía uma cláusula moral: se Isabella se envolvesse num escândalo, a empresa poderia demiti-la. "Mas negociamos, e eles aceitaram que, para eu ser dispensada, o escândalo deveria ser num grande centro urbano. Pelo menos fiquei com algum espaço para respirar." Seus relacionamentos amorosos com os cineastas Martin Scorsese e David Lynch e com o ator Gary Oldman também são analisados, bem como sua atuação em filmes como "Veludo Azul" e "Amada Imortal". Mas, após a leitura do livro, nota-se que, dos diferentes públicos e admiradores que a atriz tem, os "apaixonados" pelo rosto da Lancôme são os mais fortes. E tanto é verdade que até sua filha, um dia indagada no jardim-de-infância sobre o que faria se se perdesse num aeroporto, respondeu: "Procuraria por um pôster da minha mãe e esperaria ao lado dele até alguém me ajudar". Livro: Some of Me Autora: Isabella Rossellini Lançamento: Random House Quanto: US$ 29,95 (179 págs.) Texto Anterior: Viúva de Borges fala no centenário da ABL Próximo Texto: Buemba! Vou trocar o Peru pela Cássia Eller! Índice |
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