São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Os três anos do Real

ELCIO ALVARES

Neste mês de julho o governo federal estará comemorando três anos de Real e de inflação em queda. Algumas conquistas podem ser destacadas, como os ganhos de salário real médio, em torno de 17%, e a entrada de recursos externos -destinados a investimentos-, que, de janeiro a maio deste ano, superou todo o volume registrado ao longo do ano passado. A resposta dos investidores externos evidencia a crença na estabilidade do plano.
No entanto, muito resta a ser feito. E não apenas pelo governo. Não vivemos ainda num país sem desigualdades sociais. Mas temos que reconhecer que houve uma evolução na qualidade de vida de boa parte dos brasileiros.
O Plano Real tirou da miséria cerca de 13 milhões de pessoas e melhorou a vida de todos que sofriam os efeitos perversos da inflação. A abertura econômica e os programas para atrair investimentos estrangeiros estão empurrando o país inequivocamente na direção do Primeiro Mundo.
Mas nem todos os problemas estão resolvidos. Daí a necessidade de os governantes estaduais e municipais seguirem a política implementada pelo governo central. Ainda são elevados os índices de desemprego -apesar da economia informal-, e os projetos de política agrícola também dependem do empenho de governadores e prefeitos.
Depois de três anos de estabilidade, a economia vai bem, mas o povo, ou pelo menos expressiva parcela da população, ainda não desfruta de razoáveis condições de vida. O governo continua gastando em demasia para manter a máquina pública. E fica sem recursos para investir em saúde, segurança, educação, programas de reforma agrária e de geração de empregos.
Para reverter essa situação é que todo empenho político tem sido feito junto ao Congresso Nacional no sentido de aprovar reformas prementes para o país, como a administrativa, a da Previdência e a tributária.
A estagnação das reformas traz reflexos econômicos, sociais e políticos prejudiciais ao Brasil. Precisamos dar celeridade ao processo de reformas antes que a campanha eleitoral de 1998 seja deflagrada e imobilize o Parlamento.
O país tem pressa não apenas por causa da campanha política, mas também devido ao atraso em que se encontra em relação às nações que já resolveram dilemas semelhantes.
Sem competir em igualdade de condições no mercado globalizado, o Brasil não poderá reverter o desequilíbrio na balança comercial e terá dificuldade para superar problemas como o desemprego. Milhares de empregos hoje ameaçados pelas desiguais condições de concorrência internacional poderão ser salvos.
Não se trata apenas de arrumar as contas do governo, embora o equilíbrio das finanças públicas seja indispensável à estabilidade monetária. O ajuste fiscal tem um significado mais amplo. É condição para juros mais baixos, para conter preços.
O governo também precisa aliviar a produção do peso de impostos e contribuições. É outra condição necessária para aumentar o poder de competição do produtor brasileiro.
É necessário apressar as reformas porque o Estado continua gastando mais do que deveria, com a Previdência, por exemplo, e fica impossibilitado de promover políticas sociais indispensáveis à melhoria da qualidade de vida da população. Os saldos positivos obtidos com três anos de Plano Real poderiam ser mais expressivos se essas reformas já tivessem sido feitas.
A reforma da Constituição, portanto, não é um capricho deste governo, mas uma necessidade da nação. E mais cedo ou mais tarde terá que ser feita. Por que adiar para 1999? Para um eventual Congresso Revisor deliberar sobre o que podemos decidir agora?
É imprescindível que as forças políticas deste país, os cidadãos e as entidades civis ajudem a viabilizar a opção que o presidente Fernando Henrique Cardoso fez pelo desenvolvimento com justiça social. Dessa forma teremos mais motivos para comemorar o quarto ano do Real.

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