São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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Encargos sociais, a verdade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Por fim, alguém põe realismo e seriedade no cálculo sobre os encargos sociais que incidem sobre a folha de salários.
Refiro-me ao artigo de Marcio Pochmann, publicado ontem à página 2-2 desta Folha.
Até agora, vinha se aplicando a teoria nazista segundo a qual uma mentira muitas vezes repetida vira verdade. A mentira era (ou é) a tese de que os encargos sociais sobre salários são de 102%. Ou seja, para cada R$ 100 pagos a um trabalhador, a empresa gastaria mais R$ 102 com encargos.
Além de mentira, bobagem. Esse cálculo inclui itens como férias, repouso semanal remunerado, 13º etc. São direitos e não encargos, ainda mais em um país em que o salário básico é, de modo geral, muito baixo.
Na toada em que vinha a onda contra os encargos, logo apareceria alguém para propor a revogação da Lei Áurea, já que se estava computando férias, por exemplo, como encargo.
Pochmann mostra que os encargos são, na verdade, de 20,07%. Diz que não se diferenciam muito do nível vigente nos países do G-7, o clube dos sete mais ricos do mundo. Tenho uma dúvida em relação à Alemanha. Passei um mês por lá, estudando a rede de proteção social, e os cálculos exibidos por empresários, sindicalistas e funcionários do governo apontavam para o dobro (40%).
Enfim, Pochmann é um especialista e eu, apenas curioso.
O fato de a carga social ser muito inferior ao número quase fetichista que se vinha usando como a verdade final e definitiva não tira dos empresários parte da razão ao dela se queixarem.
O retorno, em atendimento social, dos 20% gastos nos países ricos é infinitamente superior ao que se obtém no Brasil com a mesma porcentagem.
Se, cobrando 20% sobre a folha de salários, os países ricos mantêm uma rede social razoavelmente decente, por que o Brasil não pode fazer a mesma coisa?

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