São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 1997
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O álcool é nosso!

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - A arrogância dos economistas e a falta de senso prático dos ambientalistas são um caso sério. É por isso que o debate sobre o Proálcool escorrega de um nível minimamente produtivo para um mero bate-boca.
Não dá para o Ministério do Meio Ambiente pensar que dinheiro cai do céu, nem para o Ministério da Fazenda achar que esse negócio de efeito estufa é coisa de lunático. Senão, a razão vai de vez para o espaço.
Dizem os economistas: o Proálcool é da época dos subsídios abundantes, muitas vezes suspeitos, e só serviu para encher as burras dos usineiros espertos lá das Alagoas.
Respondem os ambientalistas: mas foi um programa pioneiro e engenhoso, que mereceu o reconhecimento internacional e está até sendo copiado. Não pode simplesmente ser jogado no lixo.
Os dois, em tese, têm lá bons motivos. Mas entre o enterro do Proálcool em terra rasa (como querem os economistas) e a sobrevivência à custa de pesados subsídios permanentes (como defendem os ambientalistas) há muito o que se debater.
Exemplo: subsídios claros, fontes explícitas e prazo predeterminado, para que entrem em vigor as implacáveis leis do mercado. Os 22% do álcool anidro na gasolina deram certo. E os subsídios para pesca, já em vigor, e para a borracha, em tramitação no Congresso, são bons precedentes.
O mediador do conflito tem que ser o Planalto, o que não é animador. Técnicos de seis ministérios reuniram-se ontem no próprio palácio para falar de Proálcool. Saíram do nada e chegaram a coisa nenhuma: transformaram uma tal comissão numa certa câmara de álcool, ou coisa assim.
Uma recente reportagem na CNN mostrou como os Estados Unidos estão investindo em combustível de milho; a África do Sul, no de cana; a Europa, no de beterraba. O Brasil praticamente não foi citado.
Ficou aquela sensação ruim de quem sai na frente, anima a torcida, provoca os competidores e acaba na rabeira. O Proálcool pode ser o nosso novo Santos Dumont. Fez e aconteceu, mas ninguém sabe.

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