São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Réu acusa polícia de forjar provas

LUCAS FIGUEIREDO; AUGUSTO GAZIR
ENVIADOS ESPECIAIS A PLANALTINA (DF)

No primeiro dia de seu julgamento, o economista e ex-diretor de Orçamento do Congresso José Carlos Alves dos Santos acusou policiais civis do Distrito Federal de terem "armado" provas de que ele teria mandado matar a mulher, Ana Elizabeth Lofrano.
A defesa de José Carlos sustenta a tese de que os mandantes do assassinato de Ana Elizabeth, morta em 92, foram ex-parlamentares envolvidos no escândalo do Orçamento, que ficaram conhecidos como "anões".
O economista se disse vítima de uma farsa. "É uma mentira maldosa, uma armação que fizeram para proteger os mandantes", afirmou ele: "Não sou santo, mas também não sou o monstro que disseram".
José Carlos começou a responder às perguntas do juiz Ademar de Vasconcelos às 13h50. O depoimento terminou às 22h20.
Para ele, o ex-deputado Ricardo Fiuza "tem jeito" de que mandaria matar alguém. "João Alves já tinha me dito que era muito fácil matar uma pessoa."
"Estava vivendo muito bem com Beth. Ela sempre criticava João Alves e o trabalho do Orçamento para ele e para todo mundo", completou.
A Folha vem tentando há três dias ouvir os deputados João Alves e Ricardo Fiuza, mas eles não respondem aos recados deixados em suas residências.
José Carlos citou como uma das "armações" da polícia a afirmação de que ele teria fugido de uma barreira policial quando voltava para casa após o suposto sequestro de sua mulher à saída de um restaurante em Brasília.
O economista se disse vítima de tortura para confessar o assassinato da mulher e chantagem de policiais. O delegado Luís Julião Ribeiro e o perito Aloísio Trindade, que trabalharam no caso, negam as acusações do ex-diretor de Orçamento do Congresso.
Jurados
José Carlos será julgado por 4 homens e 3 mulheres, escolhidos num universo de 21 pessoas.
Durante o interrogatório, ele mostrou irritação e se contradisse na descrição do dia do suposto sequestro de sua mulher.
Chegou a dizer que havia se encontrado com uma de suas amantes (Christiane Vieira da Silva) no dia, mas depois disse que o fato não havia ocorrido.
José Carlos chorou duas vezes. A primeira quando terminou o relato do dia em que sua mulher desapareceu. Depois, ao falar dos filhos. Levantou o tom de voz em vários momentos, interrompendo as perguntas do juiz.
O advogado de defesa Joaquim Flávio Spindula disse considerar normal a irritação e a confusão. Segundo ele, José Carlos está ansioso para ser absolvido.
Hoje devem ser ouvidas testemunhas. Um dos depoimentos mais esperados é o Adriana Lofrano Alves Porto, filha do réu e da vítima, convocada pela defesa. "Ela vai dizer que a mãe um dia disse ao José Carlos que queria se separar dele, e que o pai se ajoelhou aos pés da mulher pedindo que ela não fizesse aquilo", disse Spindula.
José Carlos, no depoimento, disse que sempre preservou a família de suas relações extraconjugais. "Nunca cheguei em casa com marca de batom na cueca."
Ele afirmou que não é pai de Isabel, filha de Crislene Oliveira. O economista disse que fez na prisão um exame de DNA no fim de 1994. O exame teria atestado que ele não é o pai da menina.

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