São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CPI encontra manuscritos que descrevem operações do Vetor

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Precatórios achou manuscritos no Banco Vetor indicando a existência de uma combinação prévia em operações com títulos do município de São Paulo.
Essas transações previam um lucro fictício de R$ 3,277 milhões para empresas investigadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito.
O documento foi manuscrito por Ivan Brandini Cartier, ex-operador do Vetor. Ele descreve três operações sucessivas de compra e venda de papéis paulistanos realizadas em 28 de dezembro de 1994.
Na primeira operação, a distribuidora Astra compraria 1.191 títulos -de uma instituição não identificada- pelo preço total de R$ 10,083 milhões e os venderia ao BFC Banco por R$ 11,363 milhões. Ou seja, a Astra lucraria R$ 1,280 milhão com a operação.
No mesmo dia, o BFC venderia os papéis para o Vetor por R$ 12,163 milhões. Portanto, o BFC lucraria R$ 800 mil na operação.
Por fim, o Banco Vetor venderia os títulos para um cliente denominado "Tafarel" por R$ 13,360 milhões. Na operação, o Vetor ficaria com R$ 1,196 milhão.
Ou seja, o manuscrito revelaria participação ativa do Vetor na montagem da chamada "cadeia da felicidade" -sequência de operações fictícias com títulos públicos para fabricar lucros.
Confirmação
Em seu depoimento à Polícia Federal, o ex-operador do Vetor confirmou a autoria do manuscrito, mas negou que se tratasse de um esboço prévio da chamada "cadeia da felicidade".
Cartier disse que, após o início da CPI, realizou um levantamento de todas as operações com títulos feitas pelo Vetor em 95 e 96, a pedido da diretoria da instituição.
O ex-operador disse ainda que o "Tafarel" assinalado no manuscrito é a Fenaseg, a federação que reúne as companhias de seguro.
Segundo ele, o Vetor atribuía códigos aos clientes mais importantes para evitar que estagiários os conhecessem. O sócio do Vetor Fábio Nahoum deu versão idêntica em depoimento à PF.
Os técnicos da CPI, porém, não ficaram convencidos. Ao fazer a checagem das informações na Cetip (central que faz o registro de operações com títulos municipais), eles encontraram possíveis falhas na explicação.
Tomador final
Segundo a Cetip, o "Tafarel" não seria a Fenaseg, mas sim o Banco Bamerindus, que figura como tomador final dos papéis.
Nem todos os valores indicados no manuscrito batem com aqueles constantes nos registros da Cetip.
Ou seja, as anotações de Cartier significariam uma expectativa de realização de negócios, e não o levantamento de operações efetivamente feitas.
Outra indício de que a versão de Nahoum não seria correta é o fato de a distribuidora Astra não aparecer nos registros da Cetip. Os papéis são vendidos diretamente da corretora Cobansa para o BFC.
Isto é, havia a expectativa de a Astra participar da "cadeia da felicidade", que não se realizou.
Técnicos da CPI dos Precatórios também argumentam que, para fazer o levantamento posterior das operações, Cartier teria que ter acesso a dados sigilosos da Cetip.

Texto Anterior: Os envolvidos
Próximo Texto: Rio não poderá rolar dívidas na terça-feira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.