São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Por que homens gays são suscetíveis à Aids?

DANIEL J. KEVLES
ESPECIAL PARA O "NYT BOOK REVIEW"

Na metade da década de 80, logo depois de o vírus da imunodeficiência humana ter sido identificado como a causa da Aids, muitos ativistas homossexuais e especialistas em saúde pública clamaram por sexo mais seguro, ressaltando a utilização de preservativos nas relações anais.
No começo dos anos 90, a incidência de infecções por HIV entre os homossexuais masculinos diminuiu de forma significativa mas, nos últimos anos, ela voltou a aumentar, ameaçando uma nova onda epidêmica da doença.
O fracasso do que Gabriel Rotello denomina "o código do preservativo" é a base de seu livro "Sexual Ecology - Aids and the Destiny of Gay Men" (Ecologia Sexual - Aids e o Destino dos Homens Gays).
Rotello, fundador e editor da revista "Outweek" (fora de circulação), desenvolve de forma incisiva a teoria de que o fato de entender a ecologia da Aids mostraria o caminho para se estabelecer uma cultura homossexual masculina que fosse "sustentável".
Rotello tem razão ao dizer que a Aids não é uma doença específica dos homossexuais masculinos, afirmando que "90% dos casos existentes adquiriram o vírus em relações heterossexuais".
Na década de 70, surgiram em Nova York e em São Francisco núcleos de homossexuais masculinos que transmitiam o vírus por meio de sexo anal e oral desprotegido com dezenas de parceiros.
Rotello estuda a razão de a promiscuidade sexual ter se tornado um traço dominante do comportamento de muitos homossexuais masculinos. Michelangelo Signorile faz o mesmo em "Life Outside - The Signorile Report on Gay Men: Sex, Drugs, Muscles and Passages of Life" (Vida Alternativa - O Relatório de Signorile sobre Homens Gays: Sexo, Drogas, Músculos e Passagens da Vida).
Signorile, que era colunista da revista "Out", defendia veementemente uma cultura homossexual masculina sem culpa, mas, depois de saber que não tinha o HIV, começou a estudar os valores e as vidas de outros homossexuais.
Signorile é amigo de Rotello, e "Life Outside" complementa "Sexual Ecology". Os dois livros são dirigidos, em primeiro lugar, à comunidade homossexual, criticando as ideologias que transformaram essa cultura em uma força autodestrutiva. No entanto, por sua coragem e pela informação que transmitem, merecem a atenção de um público maior.
Rotello e Signorile destacam que, pelo menos na década de 50, os homossexuais masculinos foram estereotipados como afeminados.
Com a chegada da liberação homossexual, eles passaram a manter relações sexuais uns com outros, e muitos fizeram do sexo anal uma cultura revolucionária.
Quando houve a primeira onda epidêmica de Aids, a tendência de muitos ativistas homossexuais foi a de atribuir sua rápida disseminação à falta de atenção dos cientistas, do governo e da imprensa.
Culparam a todos, a não ser a si mesmos. Aqueles que chamavam a atenção para o fator comportamental existente na epidemiologia da Aids foram acusados de serem anti-homossexuais e a favor dos valores tradicionais.
Rotello argumenta de forma convincente que o código do preservativo foi adotado rapidamente porque prometia reduzir a disseminação do HIV ao mesmo tempo em que permitia que os homossexuais masculinos mantivessem seu comportamento sexual praticamente inalterado.
Em sua opinião, a reação dominante era: "Não vamos mudar o contexto cultural e comportamental da transmissão da Aids. Vamos só acabar com o vírus".
Mas os preservativos podem vazar e nem sempre são utilizados. Eles representam uma solução tecnológica imperfeita para o problema comportamental que, conforme mostra a experiência, é difícil de se solucionar.
Tanto Signorile como Rotello pregam "moderação" e "equilíbrio" nas relações homossexuais e pedem "a integração do sexo em uma estrutura muito mais ampla da intimidade de cada um dentro da comunidade".
Segundo Rotello, para deter a disseminação da Aids, os homossexuais terão de enfrentar "suas próprias responsabilidades individuais".
E acrescenta, ecoando uma frase imortal: "Uma prevenção da Aids verdadeiramente eficaz deve deixar de considerar que somos 'nós contra eles', para assumir que estamos todos incluídos no 'nós"'.

Livro: Sexual Ecology - Aids and the Destiny of Gay Men
Autor: Gabriel Rotello
Lançamento: Dutton
Quanto: US$ 24,95 (320 págs.)

Livro: Life Outside - The Signorile Report on Gay Men: Sex, Drugs, Muscles and Passages of Life
Autor: Michelangelo Signorile
Lançamento: Harper Collins Publishers
Quanto: US$ 25 (315 págs.)

Tradução Maria Carbajal

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