São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997 |
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São Petersburgo foge ao academicismo
ANA FRANCISCA PONZIO
Embora distante das revoluções estéticas ocorridas no Ocidente, esse elenco fundado e dirigido pelo coreógrafo Boris Eifman é sinônimo de vanguarda em seu país. "Somos o balé russo do final do século 20", diz Eifman, 50, que enfrentou a censura e a perseguição do regime comunista quando resolveu atuar na contramão das artes soviéticas. Em 1977, ao fundar o Ballet Teatro de São Petersburgo, Eifman queria desenvolver uma linguagem própria, livre do modelo acadêmico cultuado por companhias como o Bolshoi (de Moscou) e o Kirov (de São Petersburgo). "Não rejeitei o balé clássico, tampouco a tradição e a história", explica Eifman. "O que fiz foi criar um novo balé, sintonizado com as idéias e inquietações contemporâneas." "No entanto, o governo não queria reconhecer nosso trabalho como balé russo. Aí surgiu um paradoxo, pois o que eu desejava era fazer um balé realmente russo, diferente das histórias de príncipes e princesas encenadas pelas companhias acadêmicas", prossegue. Valendo-se principalmente da coreografia para expressar seus temas, os espetáculos de Eifman contam com excelentes bailarinos, além de um refinamento cênico que foge à regra dos padrões russos. "Meus balés não são narrativos no sentido de contar uma história. Na verdade, narram estados de alma de seres em busca de sentido para a vida." Aliado a tramas dramáticas que conferem forte teatralidade aos espetáculos, o repertório de Eifman persegue efeitos catárticos, que segundo ele criam certa conexão com o antigo teatro grego. "Quero que meus espetáculos causem impacto no público. Para mim, a dança é um meio de expressar o universo interno do ser humano. Não faço dança pela dança", explica Eifman. Segundo o coreógrafo, a beleza normal do gesto não é uma finalidade. "Isto não significa que a qualidade plástica das coreografias seja menos importante do que encontrar certa intensidade dramática nas situações. Simplesmente acredito que não é possível compreender beleza como uma noção abstrata. Quando crio um movimento é sempre com a intenção de criar uma expressão, representar um sentimento, sem que isso exclua o tratamento estético." Quanto à música, Eifman não se limita a escutá-la. "Só escolho uma obra musical quando consigo vê-la." Hoje um sucesso na Rússia, o Ballet Teatro de São Petersburgo também vem conquistando reconhecimento fora de seu país, principalmente depois da temporada que realizou em 1989, no Théâtre des Champs-Elysées de Paris, na França. Espetáculo: Ballet Teatro de São Petersburgo Quando: hoje e amanhã, 21h ("Os Karamazov"); domingo, 17h ("Tchaikovsky - Um Ser Dividido") Onde: Teatro Sérgio Cardoso (rua Rui Barbosa, 153, tel. 011/288-0136) Quanto: R$ 60 (platéia) e R$ 40 (mezzanino); vendas pelos telefones 011/ 853-8499 e 3068-0164 Texto Anterior: Os principais festivais do planeta Próximo Texto: Produtividade marca obra de Boris Eifman Índice |
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