São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Produtividade marca obra de Boris Eifman

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

À margem da tradição clássica russa, Boris Eifman revelou-se coreógrafo prolífero, que hoje exibe um repertório com quase 50 obras.
Entre as peças feitas por Eifman para o Ballet Teatro de São Petersburgo, há por exemplo "Giselle Vermelha", inspirado na bailarina russa Olga Spiesiitsieva, que depois de conhecer a fama, viveu 20 anos em uma clínica para doentes mentais, em Nova York.
"Spiesiitsieva foi a primeira bailarina a dançar `Giselle' no Ballet Maryinsky, que depois se chamou Kirov. Nos anos 20 e 30 ela prevalesceu como a melhor de todas as Giselles", diz Eifman.
Além de personalidades históricas, os clássicos da literatura vêm alimentando os balés de Eifman. "Don Quixote", de Cervantes, já ganhou uma versão do coreógrafo, que também vem dedicando atenção a Dostoievsky, cuja obra já rendeu encenações de "O Idiota" e "Os Irmãos Karamazov".
Esta última ganhou uma versão de Eifman em 1995 e será apresentada hoje e amanhã em São Paulo. "Os Karamazov", como foi intitulado o balé, não se trata de uma ilustração da obra de Dostoievsky.
"Utilizo os personagens principais e a idéia central da história. Montei um balé sobre o que existe nas entrelinhas da obra de Dostoievsky, naquele espaço que não pode ser captado por palavras, mas sim pelos movimentos", afirma o coreógrafo.
"Através da família desequilibrada dos Karamazov, dominada por um pai avaro e libidinoso, é possível expressar o terrorismo, a liberdade e a ditadura do mundo atual. Cem anos atrás, Dostoievsky captava problemas universais, que enfrentamos até hoje."
Em dois atos, "Os Karamazov" utiliza composições de Rachmaninoff, Mussorgsky e Wagner, além de canções ciganas populares e música da igreja ortodoxa russa.
O segundo programa que o Ballet Teatro de São Petersburgo traz a São Paulo é "Tchaikovsky - Um Ser Dividido", que será apresentado somente no domingo.
"Neste espetáculo procuro relacionar o universo artístico e a vida real de Tchaikovsky. É intrigante observar os paradoxos desse artista que conquistou enorme sucesso, mas que produziu uma obra marcada pela tragédia."
Eifman salienta que o homossexualismo de Tchaikovsky está incluído na trama, embora não seja o assunto central.
"É uma característica que aparece em função dos medos e do sofrimento do compositor, que desejava ser uma pessoa comum."
Contudo o público russo reagiu agressivamente quando o espetáculo estreou em São Petersburgo. "Abordar o tema da homossexualidade de Tchaikovsky na Rússia era inconcebível. Quase fui banido", lembra Eifman.
Em "Tchaikovsky - Um Ser Dividido", Eifman aboliu as músicas para balé do compositor, que colaborou intensamente com a dança. "As músicas para balé de Tchaikovsky eram quase sempre encomendadas. Por isso, preferi as composições sinfônicas, em que ele expressava a si próprio com mais sinceridade."
(AFP)

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