São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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A IMAGEM DE COVAS

O governo de São Paulo, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), reduziu o déficit de suas contas ao menor nível das últimas duas décadas. A despesa do Tesouro paulista, em 1996, superou em 0,01% a arrecadação. No último ano do governo Fleury (1994), o antecessor de Mário Covas, o déficit fora de 17,86%.
Ainda segundo o TCE, o governo estadual cortou ou manteve inalterado o nível de investimentos em áreas nas quais a atuação do poder público rende mais pontos para sua popularidade: saúde, educação, transportes e habitação. Sacrificou, pois, setores fundamentais, mas outras medidas, como o enxugamento expressivo da máquina administrativa, indicam que Covas decidiu aceitar o encargo de aplicar a receita amarga da austeridade. E, como era esperado, sua imagem é a de um governador letárgico ou pouco realizador.
Não é uma imagem de todo injusta. Fazer um bom governo quando sobram verbas é uma tarefa relativamente fácil. A estatura de um homem público se mede, na verdade, quando ele consegue administrar bem recursos escassos.
Ainda assim, é preciso reconhecer que Covas agiu no sentido de colocar em ordem as contas e a administração estaduais. Tornou operacionais e mesmo lucrativas as estatais paulistas e as preparou para a privatização, ainda que em ritmo lento. Colaborou para diminuir o déficit público total do país -resultado este que, é bom lembrar, não vem sendo obtido pelo governo federal. Pode-se dizer, enfim, que o governador assumiu o ônus de equacionar o problema criado por governantes que preferem encher as urnas com votos à custa de dilapidar os recursos públicos.
Lamente-se apenas que, diante da deterioração de sua imagem e da proximidade das eleições, Covas aumente de modo expressivo os gastos em publicidade. Tal medida, que mancha um pouco um currículo de austeridade, serve para mostrar que também o governador acredita que, para muitos eleitores, entre as grandes obras administrativas não se inclui o saneamento das contas públicas -uma visão míope, para dizer o mínimo, sobre o que é governar.

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