São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Microempresa: única solução

HERBERT DE SOUZA

Não adianta buscar outras soluções. Os grandes conglomerados já estão com lotação esgotada em escala local e global. Não pretendem criar mais nenhum emprego neste século -talvez no próximo e em Marte.
Os impasses sobre o desemprego, que se arrastam há mais de dez anos, não têm solução na grande empresa. Não adianta fazer reunião do G-8 ou seminários sobre o tema. Não adianta esperar que a Volkswagen ou a General Motors criem novas frentes de trabalho, elas têm o mundo como horizonte, podem fazer rodízios, aumentar turnos e salários, mas não empregos.
A angústia da Alemanha não tem solução a curto ou médio prazo, quem sabe quando terá. Por longo tempo terão o mesmo número de empregados. Vivemos em um mundo perigoso e volátil, em razão de trilhões de dólares que circulam por todos os continentes.
Que Gustavo Franco e Pedro Malan cuidem da estabilidade que tanto queremos. Deixem os meus queridos amigos economistas com suas reflexões sobre os limites da microempresa, eles têm tempo para pensar e não chegar a conclusão alguma.
Acredito que a hora é do Nassim, secretário de Formação e Desenvolvimento Profissional do Ministério do Trabalho; do Cido, da Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária -Anteag; do Sebrae; das cooperativas e do Ibase.
Todos que têm um crachá da VW deveriam enquadrá-lo e colocá-lo na parede da sala, esperando para ver o que acontece em um mundo globalizado, robotizado, ávido por expansões generalizadas. Esperar que da grande empresa possa surgir uma solução para o desemprego é pura ilusão.
A microempresa é uma solução política porque tem a dimensão da possibilidade humana. A prova disso é que, de cada 10 empregos criados no Brasil, 6 são oriundos do setor. Não se trata de tornar grande a microempresa, mas de fazer milhares por todo o planeta. A grande empresa é um dinossauro com data marcada e não sabida para morrer, a microempresa é a vida resistindo e renascendo a cada dia.
A microempresa é uma solução econômica porque torna viável, a partir de 1, 5, 15 ou 20 pessoas, uma determinada atividade produtiva. É, portanto, generalizável.
A microempresa é uma solução tecnológica porque é capaz de somar simplicidade com complexidade, por meio da inteligência. E, principalmente, por estar ao alcance de cada pessoa que toma a iniciativa, é também uma empresa-cidadã.
A microempresa é uma solução humana e solidária, porque é o único caminho existente para gerar trabalho, distribuir renda e estancar o crescimento da miséria.
Os comitês da Ação da Cidadania estão criando microempresas por toda parte. O Ministério do Trabalho descobriu que pode fazer e está fazendo excelente campanha. As secretarias estaduais e municipais do Trabalho também se mostram empenhadas. Os assentamentos rurais estão ajudando na luta contra a miséria no campo, a reforma agrária entrou na agenda nacional pela porta da frente, e o Incra está se virando como pode e como não pode.
Por todos os lados se fala em cursos de capacitação de mão-de-obra e da criação de uma 'mentalidade de microempresário'. As universidades estão desenvolvendo potencial tecnológico e gerencial. Talvez por tudo isso o sol ainda brilhe nas nossas cabeças, apesar dos escândalos e da constante indignação. Esse é o Brasil que caminha!
Não tenho dúvidas de que o momento é de generalizar, ampliar, universalizar, globalizar, produzir, gerar trabalho de qualidade com renda digna. Trata-se de começar a ver esse mundo da base para o alto, do micro para o macro, da planície para o Planalto e não mais o contrário. As razões da microempresa não são as minhas, mas as da própria realidade. Vamos deixar que ela fale mais alto.

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