São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 1997
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Desenho foge da ambiguidade mitológica

JOSÉ GERALDO COUTO

Dizer que "Hércules" é um desenho animado ultracompetente em termos técnicos é chover no molhado. Igualmente previsível é a liberdade com que altera a história mitológica em que se baseia.
Na mitologia grega, Hércules é filho da mortal Alcmena com o deus Zeus. Na versão Disney, é filho "legítimo" dos deuses Zeus e Hera, adotado na Grécia por Anfitrião e Alcmena depois de ter virado mortal por artimanhas do malvado Hades, o deus dos infernos.
Ou seja, o desenho apaga a ambiguidade dos personagens mitológicos e enquadra tudo num maniqueísmo rasteiro: Zeus é o deus "do bem", Hades é o "do mal".
Em vez de mostrar os célebres doze trabalhos que o herói teve de cumprir para seu primo Euristeu, o filme reduz a história ao confronto entre Hércules e Hades, misturado com a história de amor entre o "mocinho" e Mégara.
Nas cenas de ação, sucumbe à estética dos monstros de desenho japonês. Nas cenas românticas e musicais, aos clipes brega.
Se representa um retrocesso em relação à complexidade de "O Corcunda de Notre Dame", "Hércules" traz boas piadas e uma ousada auto-ironia (ou cinismo?), na sequência em que o herói vira grife.

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