São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Frei sem terra passa a cumprir pena em regime aberto

AUGUSTO GAZIR
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Enquanto o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) José Rainha Jr. corre o risco de perder a liberdade, sem-terra gaúchos, condenados pela morte de um policial, começam a reconquistá-la.
José Gowaski, Otavio Amaral, Idone Bento, Augusto Amaral, José Algemiro de Campos e Elenir Nunes foram condenados pela morte de um policial na praça matriz de Porto Alegre, ocorrida em agosto de 1990.
O policial Valdeci Lopes morreu com um golpe de foice, durante confronto com os sem-terra para a desocupação da praça.
Não se descobriu quem deu o golpe, mas os trabalhadores rurais foram condenados por estarem envolvidos no conflito.
Gowaski, Otavio e Bento ganharam este mês o direito de cumprir o final da pena de seis anos em regime aberto (dormindo na cadeia). Campos -que teve a maior pena (sete anos)- e Nunes estão em regime semi-aberto. Augusto passa toda a pena em regime aberto.
Padre
"Sou vítima da Justiça. Passei todo o tempo inocente. Estou preso por uma questão ideológica", afirmou Gowaski à Folha.
O sem-terra virou frei franciscano em dezembro do ano passado, quando prestava pena em regime semi-aberto no Instituto Penal de Mariante, em Venâncio Aires (100 km de Porto Alegre).
"Não vou dizer que a prisão foi uma provação. Foi uma experiência, um desafio gratificante. Criei uma amizade (com os presos), uma fraternidade de irmãos", disse o frei."Sou preso e tenho que aceitar isso."
O Instituto de Mariante foi um seminário até o fim da década de 60. Hoje, é uma penitenciária agrícola tida como modelo pelo Ministério da Justiça.
Gowaski trabalhava em Mariante na manutenção da capela do ex-seminário, onde hoje os presos rezam e participam de missas. "É uma forma de me ocupar, tenho que prestar algum serviço. Se eu chefiasse o seminário, jamais cederia isso aqui (Mariante) para colocar uma cadeia."
Gowaski esteve no seminário em 92, quando teve um período de liberdade provisória por causa de um recurso em seu processo.
"Desde pequeno eu tinha uma vida religiosa. Tomei a decisão definitiva quando cumpria pena no Presídio Central de Porto Alegre", disse ele.
Gowaski e os outros sem-terra vêm tendo um comportamento tido como "exemplar". Marco Scapini, juiz da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, afirmou que eles não dão nenhum "incômodo".

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