São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Crianças recebem coquetel anti-Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 15 crianças de dois hospitais de São Paulo começaram a receber esta semana o coquetel de drogas contra o HIV fornecido pelo Ministério da Saúde. O coquetel -como é chamada a combinação de medicamentos anti-Aids- teve seu uso em criança autorizado pelo ministério há 20 dias.
Pedro Chequer, diretor do programa de Aids, disse que a distribuição das drogas na rede pública já começou. No Brasil, existem cerca de 1.300 crianças com menos de 12 anos com Aids, vivas.
A esperança dos especialistas é que o coquetel venha a produzir nas crianças os mesmos bons resultados que vêm sendo registrados nos adultos. A maioria dos doentes apresentou melhora clínica, diminuição da carga viral e aumento das células de defesa.
"Os estudos em crianças mostraram significativa melhora", diz Marinella Della Negra, médica do Hospital Emílio Ribas que acompanha cerca de 400 crianças com Aids. Um grupo de dez dos seus pequenos pacientes começou a receber esta semana o ritonavir, um inibidor de protease em solução.
A droga inibe uma proteína responsável pelo amadurecimento do vírus. Seu uso associado aos inibidores de transcriptase reversa -que dificultam a replicação do vírus- formam o coquetel.
As crianças já vinham recebendo AZT, ddI e 3TC, todos inibidores de transcriptase de primeira e segunda geração. A novidade é a associação do inibidor de protease. O ministério já distribui três dessas drogas para adultos, mas só o ritonavir, por enquanto, tem formulação pediátrica. O nelfinavir, em forma de pó para ser misturado com sucos, já vem sendo usado por crianças norte-americanas e está sendo comprado pelo Ministério da Saúde.
"O governo reservou R$ 4,5 milhões anuais para a compra de medicação para crianças com Aids ou HIV", diz Pedro Chequer.
A decisão de distribuir o coquetel também para crianças foi tomada no último dia 6 num encontro de especialistas em Brasília. No Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, 12 crianças com mais de 10 anos começaram a tomar o medicamento no final do ano passado, quando o coquetel passou a ser distribuído para adultos na rede pública. Heloisa Helena Marques, médica do instituto, diz que a maioria delas apresentou melhora -três tiveram a carga viral indetectável, isto é, o vírus não foi mais detectado na corrente sanguínea. No grupo, no entanto, uma criança morreu e outra teve seu estado agravado.
O consenso do ministério sugere que a criança comece tomando AZT mais ddI, passando para AZT e 3TC e, em caso de intolerância, use o d4T. Se piorar, deve ser adicionado um inibidor de protease.

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