São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Paul Lightfoot ascende no Nederlands

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A temporada do Nederlands Dans Theater em São Paulo, que se encerra amanhã no Teatro Municipal, está mostrando quão especial é o coreógrafo Jiri Kylian, diretor dessa companhia holandesa e autor das obras que integram o programa.
Perante a excelência das composições de Kylian, surge a dúvida se tão cedo este coreógrafo tcheco, hoje com 50 anos, terá um sucessor à altura.
No entanto, sendo o Nederlands Dans Theater uma usina de criatividade, estimuladora de todos os que dela fazem parte, já é possível apontar, em seus domínios, uma estrela que sobe.
Trata-se de Paul Lightfoot, um inglês de 31 anos que, além de ótimo bailarino, vem revelando talento singular como coreógrafo. Respeitado por Kylian, seu grande incentivador, Lightfoot é cogitado, nos bastidores do Nederlands, como o provável futuro diretor da companhia.
"Não penso nisso e não faço planos para o futuro", diz Lightfoot que, como bailarino, consegue se destacar no coeso elenco do Nederlands, onde não se cultiva o status de estrela porque todos são solistas.
Ida sem volta
Criado numa fazenda no norte da Inglaterra, onde seus pais produziam laticínios, Lightfoot foi para Londres aos 15 anos, para estudar dança na Royal Ballet School.
"Logo comecei a coreografar, mas não estava convencido que tinha realmente essa capacidade", ele comenta. Foi durante um workshop ministrado por Kylian na escola do Royal Ballet que Lightfoot ganhou sua chance.
"Kylian me propôs um contrato de oito semanas para que eu dançasse no Nederlands Dans Theater 2 (companhia júnior formada por jovens entre 18 e 21 anos)", conta Lightfoot, que pretendia retornar a Londres em seguida, para completar sua graduação.
"Mas quando voltei percebi que já não era mais o mesmo. A experiência no Nederlands abriu minha cabeça, mudando minha percepção sobre dança."
Depois de dançar durante dois anos e meio no Nederlands 2, Lightfoot foi admitido na companhia número 1, que está visitando o Brasil pela primeira vez (além desses dois elencos, há ainda o Nederlands 3, que reúne bailarinos com mais de 40 anos).
Influências de Kylian
Já na época em que era bailarino do Nederlands 2, Lightfoot passou a coreografar mais intensamente e logo produziu o primeiro sucesso da companhia júnior, "Step Lively".
Para o Nederlands 3, Lightfoot criou obras como a memorável "Susto", que este grupo apresentou em São Paulo ano passado. Com uma grande ampulheta despejando areia sobre os bailarinos, "Susto" compõe uma original metáfora sobre o tempo.
Como Kylian, Lightfoot faz da técnica clássica do balé um recurso atemporal e renovador. "Tenho orgulho de afirmar que Kylian me influenciou muito", diz.
"Quanto à técnica clássica, que faz parte de minha formação, não há como dispensá-la. Por meio dela, exploro infinitas possibilidades, pois me permite explorar a dança num estado mais depurado."
Muitas vezes utilizando músicas barrocas ou corais, Lightfoot já fez parcerias criativas com sua namorada, a bailarina espanhola Sol Leon, que também integra o elenco do Nederlands 1. Juntos, criaram a coreografia "Sigue".
Comparadas as coreografias de Kylian, as composições de Paul Lightfoot revelam-se menos abstratas.
"No Nederlands aprendemos a ser criativos por meio de nossas habilidades físicas. Mas eu gosto de ter um tema na cabeça, mesmo que seja bizarro ou não inteligível, ou ainda quando a coreografia é basicamente orientada pelo movimento."
"Quero apenas continuar a dançar e coreografar", salienta Lightfoot, sem demonstrar preocupações sobre sua possível projeção na hierarquia do Nederlands.

Espetáculo: Nederlands Dans Theater
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 17h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 011/223-3022)
Quanto: R$ 120 (setor 1), R$ 80 (setor 2), R$ 40 (setor 3), R$ 20 (setor 4), R$ 10 (setor 5)

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