São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Anotações podem comprometer Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Anotações de assessores do presidente dos EUA, Bill Clinton, mostram que ele pode ter feito ligações telefônicas desde a Casa Branca, sede do governo do país, para pedir contribuições em dinheiro para a sua reeleição.
"BC fez de 15 a 20 chamadas, levantou 500K", diz uma dessas notas manuscritas entregues, por intimação da Justiça, pela Casa Branca à comissão parlamentar de inquérito que investiga as finanças da campanha de Clinton em 1996.
A legislação eleitoral proíbe que qualquer funcionário público, inclusive o presidente, peça dinheiro para campanhas políticas em edifícios do governo federal. Clinton tem dito não se lembrar de ter feito chamadas com esse fim, mas nunca descartou a possibilidade de algumas de elas terem acontecido.
O vice-presidente Albert Gore já admitiu que fez esse tipo de ligações, mas se justificou dizendo que ele as havia pago com um cartão de crédito do Partido Democrata. As notas em poder da CPI mostram que Gore e a primeira-dama Hillary Clinton também fizeram telefonemas a fim de pedir dinheiro para a campanha de reeleição.
A reação oficial do governo ontem seguiu a linha de defesa adotada por Clinton. "O presidente fez centenas de telefonemas para os seus partidários ao longo dos anos. Às vezes, o diretório nacional do partido (Democrata) lhe pedia para chamar algumas pessoas. Mas ele diz não ter lembrança específica de ter solicitado contribuições financeiras durante as conversas", diz o advogado Lanny Davis.
A campanha para a reeleição de Clinton é acusada de diversas irregularidades. A principal é a de ter aceitado doações de empresas ou cidadãos estrangeiros, em especial da Ásia, o que é proibido pela legislação eleitoral norte-americana. O chamado Asiagate está sendo investigado pelo Congresso e pelo promotor independente do caso Whitewater, Kenneth Starr.
O Partido Democrata admitiu ter recebido pelo menos US$ 1,5 milhão em contribuições ilegais e está devolvendo esse dinheiro aos doadores. Clinton alega nunca ter tomado conhecimento desses donativos de estrangeiros e criticou seu partido por não ter tomado precauções suficientes para impedir que eles tivessem acontecido.
Embora tenha prometido em diversas ocasiões acabar com o atual sistema de financiamento de campanhas eleitorais, Clinton continua participando de eventos para levantar fundos junto a grandes empresários, sob o argumento de que enquanto as regras do jogo não mudarem, ele tem que segui-las para não ser prejudicado.
Segundo pesquisa do "The Wall Street Journal" e da TV NBC, 62% dos americanos querem que acabe o sistema de grandes contribuições a campanhas políticas.

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