São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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China anuncia demonstração de força militar horas após a festa da devolução

JAIME SPITZCOVSKY
GILSON SCHWARTZ

JAIME SPITZCOVSKY; GILSON SCHWARTZ
ENVIADOS ESPECIAIS A HONG KONG

Pequim anuncia que vai mandar 4.000 soldados ao território no primeiro dia após retomar soberania chinesa

A China anunciou ontem que, seis horas depois do fim do domínio britânico em Hong Kong, 4.000 militares chineses vão entrar no território.
Chris Patten, o governador colonial, disse que a demonstração de força de Pequim envia um "sinal assustador" para a população de Hong Kong e a comunidade internacional.
Hong Kong volta ao controle da China a partir da 0h de terça-feira, depois de 156 anos de colonialismo britânico. Em 1984, Pequim e Londres acertaram a devolução sob a formula "um país, dois sistemas", ou seja, Hong Kong poderá manter, por 50 anos, seu sistema capitalista e um alto grau de autonomia administrativa.
Pequim, segundo a fórmula "um país, dois sistemas", responderia apenas pela defesa e política externa do território. A China já conta com 196 militares em Hong Kong, enviados para preparar a chegada e a instalação de mais soldados.
Surpresa
O anúncio de ontem surpreendeu pela amplitude da chegada das tropas. Esperava-se um esquema de menor impacto, pois a China havia declarado que suas Forças Armadas buscariam manter "uma posição discreta", para evitar assustar a população de Hong Kong.
As Forças Armadas chinesas têm, em Hong Kong, sua imagem associada ao massacre da praça Tiananmen, ocorrido em Pequim há oito anos. Tropas enviadas pelo governo dispararam contra os ativistas pró-democracia que ocupavam a praça e mataram centenas de civis.
O anúncio da chegada das tropas foi divulgado pelo escritório de Tung Chee-hwa, o futuro governador de Hong Kong. Um de seus assessores, na tentativa de diminuir o impacto negativo da notícia, afirmou que os soldados e os carros blindados vão seguir "diretamente para suas bases".
Imagem
Mas chegar a dois quartéis na ilha de Hong Kong significa atravessar zonas movimentadas da cidade. A imagem de carros blindados chineses cruzando ruas de Hong Kong será registrada pelas diversas emissoras de TV que desembarcaram no território nos últimos dias.
Mais de 8.000 jornalistas são esperados para acompanhar as cerimônias da próxima semana.
A questão da chegada dos militares causou rusgas entre chineses e britânicos, nos últimos 15 dias.
A China já havia arrancado do Reino Unido uma concessão para enviar mais 509 soldados três horas antes do fim do domínio britânico. Pequim argumentou que o reforço e necessário para garantir a defesa de Hong Kong já "nos primeiros minutos de terça-feira".
Às 6h de 1º de julho, 4.000 militares chineses chegam ao território em dez embarcações, seis helicópteros, 21 carros blindados e 400 veículos.
"Os chineses querem terminar o seu 'século de humilhação' em grande estilo, mas eles deviam ter mais sensibilidade em relação aos nossos sentimentos", disse Emily Lau, uma deputada de Hong Kong que é classificada como "subversiva" por Pequim.
A China não revela quantos militares pretende ter em Hong Kong, mas analistas ocidentais avaliam que ela deverá contar com cerca de 10 mil soldados no território. O Reino Unido chegou a ter essa mesma concentração de tropas para defender Hong Kong de uma eventual invasão chinesa.

LEIA MAIS sobre a devolução de Hong Kong para a China às págs. 17 e 18

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