São Paulo, sábado, 28 de junho de 1997
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Atenção em todas as frentes

PEDRO PARENTE

O Real, bem como seus impactos sobre o crescimento atual e futuro, tem contribuído para a melhoria do bem-estar na sociedade e para a diminuição das desigualdades e injustiças.
O PIB brasileiro tem crescido a taxas superiores às da década de 80 e início dos anos 90. A taxa média de crescimento anual entre 1981 e 1989 foi da ordem de 2,3%, e a do período 1990-93 foi de -0,2%. No Real (1994-96), 4.4%.
A taxa média de crescimento "per capita" dos anos 80 foi de apenas 0,2% ao ano, enquanto no período 1991-93 observou-se queda, em termos médios anuais, de 1,75%. Com o crescimento no Real, aumentou 2,9% a cada ano.
Destaque-se que, nos anos 1994/96, observou-se menor variabilidade da taxa de crescimento. Isso porque, antes do Real, o país experimentou ciclos curtos de forte crescimento seguidos por anos recessivos ou de estagnação. Isso não tem se verificado, o que traz impactos positivos sobre as decisões de investimentos no país.
O Real teve, também, impactos redistributivos. Os mais pobres eram os maiores prejudicados com a inflação alta, dado que não tinham capacidade de defender seus rendimentos. A queda da inflação e a sua manutenção em patamar baixo eliminam esse efeito.
Com isso, observou-se crescimento expressivo do consumo de alimentos: cresceu o consumo aparente "per capita", no triênio 1994-96, em relação a 1991-93, de frango (32%), queijo (72%), leite (16%), ovos e carne suína (12% cada). O aumento do consumo de cimento no país, de 39,1% entre 1993 (período anterior ao Real) e 1996, é outro indicador desse efeito.
Com relação à questão fiscal e, consequentemente, à consolidação da estabilização, o governo tem envidado grandes esforços no ajuste das contas do setor público, na arrecadação e na contenção de gastos. Os acordos de dívidas dos Estados representam outro importante passo, dado que contemplam o ajuste fiscal daquelas esferas.
As contas externas representam outro desafio: a análise revela que o déficit em conta corrente tem crescido. No entanto, há que destacar que esse déficit tem financiamento garantido no médio prazo, dado o volume de reservas internacionais e a entrada de recursos externos, com destaque para os investimentos estrangeiros. O ingresso desses recursos passou de uma média de US$ 1 bilhão por ano (1991-93) para US$ 4 bilhões (1995) e US$ 9,4 bilhões (1996). Nos últimos 12 meses (junho de 96 a maio de 97), entraram no país US$ 12,5 bilhões de investimento direto.
Além disso, é preciso analisar essas variáveis do ponto de vista dinâmico: o ciclo de investimentos em curso e a redução de ineficiências sistêmicas, via diminuição do "custo Brasil", melhoram a estrutura de oferta brasileira, ampliando-a e tornando-a mais eficiente. O resultado é o aumento da competitividade da produção nacional, com impactos positivos a médio e longo prazos na balança. Com isso, a trajetória das transações correntes será revertida, e o comportamento atual das contas externas será apenas transitório.
Entretanto, o pior cego é aquele que não quer ver. E, como isso vale também para o governo, é indispensável registrar que, apesar de estarmos na direção certa, a velocidade não é a desejada. O crescimento poderia ser maior, a taxa de juros poderia cair mais rapidamente, e as desigualdades, ser menores, desde que as reformas estivessem caminhando em ritmo mais acelerado.
Como se vê, o governo está atento a todas as frentes, tendo em foco a consistência macroeconômica do programa e adotando todas as medidas para garantir a continuidade do sucesso. Este é um processo que exige persistência e coerência e não está livre de riscos.

Pedro Pullen Parente, 44, é secretário-executivo do Ministério da Fazenda.

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