São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Reformas pró-Real devem empacar no ano eleitoral

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano Real faz três anos e está completamente esgotada a sua capacidade de sensibilizar políticos sobre a necessidade de fazer reformas para sustentá-lo.
No início do governo de Fernando Henrique Cardoso, quase não se falava em outra coisa sem citar a urgência de uma reforma tributária e fiscal.
Esse tipo de reforma reordenaria a coleta de impostos e a distribuição de recursos públicos em todo o país. Para fazer isso, é preciso mudar a Constituição.
Inviabilidade política
Hoje, esse tipo de discussão está abandonada. Todos os integrantes do governo admitem que a reforma tributária e fiscal terá de ficar para um eventual segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, a partir de 99.
Isso não significa que o governo desistiu de fazer a reforma fiscal e tributária ou outras reformas necessárias para a manutenção do real. Trata-se apenas de um caso de inviabilidade política.
O governo FHC tem uma base de apoio fragmentada no Congresso. Depende de cinco partidos para aprovar alguma emenda constitucional: PSDB (a legenda do presidente), PFL, PMDB, PPB e PTB.
No plano federal, essas siglas estão todas ao lado do presidente Fernando Henrique Cardoso. Só que, em nível local e estadual, a situação é bem diferente.
Como os políticos que têm assento na Câmara e no Senado já começaram a articular suas campanhas para tentar se reelegerem no ano que vem, fica difícil obrigá-los a votar questões polêmicas como a reforma tributária e fiscal, por exemplo.
Essa reforma atribuiria a Estados e municípios mais responsabilidades pela execução de ações na área social, por exemplo.
Hoje, a Constituição é dúbia a esse respeito e deixa o caminho livre para prefeitos e governadores jogarem sempre a culpa no governo federal.
Versão oficial
O discurso oficial do governo, é claro, difere um pouco dessa realidade relatada acima.
"Vamos aprovar a reforma administrativa na Câmara, e o Senado deve aprovar a reforma da Previdência em julho", diz o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP).
Em tese, nada impediria o governo de fazer o que prevê Michel Temer. Mas as condições políticas não favorecerão um sucesso do Planalto.
O mais provável é que as reformas constitucionais se arrastem por julho (quando o Congresso está convocado extraordinariamente), agosto e setembro.
Remendos
Talvez alguma coisa possa ser aprovada. Mas serão reformas remendadas, que não atenderão totalmente os desejos da equipe econômica.
Quando outubro chegar, o ritmo dos trabalhos no Congresso será cada vez mais lento. É que a partir desse mês os políticos terão todos de já ter feito a opção partidária para a eleição do ano que vem -com isso, estará deflagrada a campanha eleitoral para o ano que vem.

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