São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Lucro de estrangeiro com juro é menor

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Investidor estrangeiro ainda ganha dinheiro no Brasil, mais ainda se a operação não seguir ao pé da letra a cartilha de normas do Banco Central.
Idem para empresas e bancos que captam dólares no exterior para repassar em crédito bem mais caro no país.
Mas há consenso no mercado financeiro de que a fase do lucro fácil e polpudo passou.
Na largada do Real, com juros internos cavalares e o dólar se desvalorizando, o chamado cupom cambial -diferença entre as duas taxas- chegou a superar 100% ao ano, em taxa mensal anualizada, embora num curto período.
Depois foi caindo para patamares de 60%, 40% e 30% de taxa bruta, o que, lá fora, é resultado obtido em pelo menos seis anos.
A partir do momento em que o BC passou a desvalorizar o câmbio e a baixar as taxas de juros internas, numa tendência gradual e contínua, o cupom cambial foi se estreitando (ver gráfico).
O CDI (juro interbancário) está rondando 1,6% ao mês, o que projeta 20,98% ao ano. Como o dólar está deslizando a um ritmo de 7,5% ao ano, o cupom ronda 12,5%.
Há investidores com reciprocidade tributária e que, por isso, não pagam por aqui o imposto de 15% no resgate de aplicações em renda fixa. Mas, considerando essa taxação, o cupom líquido cai para o patamar de 10% ao ano, com tendência para ficar abaixo disso, perto do que se obtém no exterior.
Há também o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na entrada de dólares, mas existem artifícios legais para não pagá-lo.
Arbitragem
Luís Eduardo Assis, diretor do Citibank, diz que a chance de ganho fácil acabou, principalmente para quem tomava dinheiro emprestado lá fora e vinha fazer arbitragem de juros aqui, ou seja, lucrar com a diferença de taxas.
Ele concorda que a margem para queda ainda maior dos juros internos -e também do cupom cambial- é pequena, mas acha que ainda existe.
Para o diretor do Citibank, a estratégia do BC é clara: num movimento de aproximações sucessivas, praticar desvalorizações reais do câmbio e reduzir os juros, sempre de olho no nível das reservas externas. Sempre que as reservas caem, o BC breca a queda do juro.
O fato de o futuro de DI projetar alta do juro nos próximos meses não é indicador da realidade, segundo Assis, porque nesse mercado se faz mais hedge (proteção) e se cobra um prêmio pelo risco do alongamento de prazo.
Países com déficit em transações correntes (balanças comercial e de serviços e transferências unilaterais) semelhante ao do Brasil trabalham com juro mais baixo, diz.
Alternativas
Dalton Gardimam, economista-chefe do Deutsche Morgan Greenfell no Brasil, lembra que o cupom cambial já foi três vezes maior que o atual. A arbitragem clássica não paga mais sequer o risco Brasil, diz ele.
Para Gardimam, dificilmente o BC terá condições de reduzir ainda mais a diferença entre juros internos e variação cambial porque o investidor internacional tem alternativas lá fora. "Pode preferir a Tailândia, por exemplo, e receber mais com risco menor", afirma.
Quando se compra título da dívida externa, compra-se só o risco-país. Ao trazer recursos para aplicar no Brasil compra-se também o risco cambial e, às vezes, até o risco-empresa, explica Gardimam.

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