São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Real provoca conflito com a Argentina

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Estratégia para manter estabilidade causa turbulência com sócio do Mercosul

Real gera conflito com a Argentina
Para manter a estabilidade do Plano Real, lançado em julho de 1994, o governo brasileiro adotou medidas de proteção à economia interna que causaram turbulências comerciais com a Argentina, seu principal parceiro no Mercosul (bloco econômico que também reúne Uruguai e Paraguai).
As medidas mais polêmicas foram o regime automotivo (que criou incentivos para montadoras que se instalaram no país), a fiscalização sanitária prévia de alimentos importados e as restrições ao financiamento de importações.
Dessas, apenas a fiscalização de alimentos deixou de vigorar. As demais seguem causando reclamações por parte da Argentina.
Visões
Em um recente documento divulgado pelos negociadores argentinos no Mercosul, o regime automotivo brasileiro é definido como uma "guerra de incentivos" que leva os investidores a "jogar um país contra o outro em uma competição desastrosa".
Outras medidas da política econômica nacional (como incentivos ao setor açucareiro) são criticadas por "distorcer as correntes de comércio e as decisões de localização de investimentos no Mercosul".
Para a diplomacia brasileira, as medidas da equipe econômica são tomadas para fortalecer a economia interna -o que é essencial para a sobrevivência do Mercosul.
O consultor argentino Roberto Lavagna, diretor da empresa Ecolatina, é da mesma opinião. "Uma crise na economia do Brasil levaria a Argentina junto", disse à Folha. Ele critica o Brasil por não cumprir "formalidades diplomáticas" com seus parceiros do Mercosul ao adotar medidas unilaterais de proteção à sua economia, mas lembra que a Argentina se favorece da estabilidade do seu maior vizinho.
Lavagna diz que o Brasil é o principal comprador da Argentina e que o maior problema entre os dois países é a diferente interpretação sobre como resolver o dese quilíbrio nas contas externas.
Segundo ele, enquanto o Brasil optou por combater o déficit externo com medidas de proteção comercial, os argentinos preferem aumentar as taxas de juros para obter mais capitais externos.
Apesar das restrições ao financiamento das importações, as vendas do Mercosul para o Brasil cresceram 20% entre janeiro e abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

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