São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Precocidade feminina alimenta debate

THALES DE MENEZES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O torneio de Wimbledon tem muitas regras peculiares.
Uma diz que todo tenista menor de 18 anos deve apresentar autorização dos pais antes de cada jogo. A melhor do mundo, a suíça Martina Hingis, 16, cumpre esse ritual, entre risos e constrangimentos.
A precocidade no tênis feminino atual gera cenas curiosas como essa e também uma discussão mais séria: até que ponto meninas de 15, 16, 17 anos aguentam o estresse físico e emocional de competir debaixo das atenções do mundo?
Há casos de jogadoras que conseguiram sucesso profissional ainda adolescentes e depois tiveram carreiras (leia texto abaixo). Hoje, três jogadoras estão ocupando o panteão teen: Hingis, Iva Majoli, 19, e Anna Kournikova, 16.
O técnico Nick Bolletieri, descobridor de André Agassi e treinador da russa Kournikova desde que ela tinha 11 anos, não vê problema algum para as campeãs precoces.
"É uma questão de manter a tenista com a cabeça tranquila. O desgaste é o mesmo que elas teriam em jogos do juvenil", analisa.
A tcheca Hana Mandlikova, ex-campeã precoce e atual treinadora de Jana Novotna, discorda.
"Esse raciocínio é simplista. Não dá para separar o físico do emocional. Numa final de Grand Slam, a pressão é enorme; isso mexe com a cabeça da menina e vai influir também no rendimento atlético."
O norte-americano Stan Smith, vencedor de Wimbledon em 72, explica a precocidade no feminino e diz o motivo que impede o mesmo processo no masculino.
"Hoje, os técnicos já conseguem dar um padrão de jogo desde cedo, porque os métodos de treinamento foram aprimorados cientificamente. Qualquer juvenil analisa os movimentos no computador."
Segundo ele, o único golpe que demora para ser consolidado é o saque. "É preciso força, e os garotos ganham essa força com maior altura e melhor estrutura muscular. Isso vem aos 18, 19 anos."
Por isso, Smith acha que as meninas levam vantagem. "No jogo das mulheres, o saque ainda não é tão determinante quanto no masculino. Martina Hingis é a melhor do mundo, mas seu saque ainda é fraco, ela vai melhorar mais."
Adriano Panatta, capitão da Itália na Copa Davis, acha que foi isso que aconteceu com a croata Majoli, campeã de Roland Garros.
"Apostavam que ela estouraria com 15 ou 16 anos, mas a boa fase veio com quase 20 anos."
Técnicos ouvidos pela Folha concordam com a decisão dos dirigentes que limita a participação de menores de 16 anos no circuito. Nessa faixa de idade, a garota participa de até oito torneios por ano.
"É o suficiente para que ela ganhe experiência. Durante o resto do ano, ela pode ir ao cinema com o namorado", brinca Panatta.

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