São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Asfixia

RODRIGO BUENO

Há muito não se via uma competição tão previsível quanto a Copa América deste ano. Desde o início, era sabido que Brasil e Bolívia fariam a decisão, e que esta seria em La Paz.
As armas que os times levam à final também não são segredo para ninguém. Os brasileiros atacam com uma equipe milionária, líder do ranking da Fifa, o que a faz ser, supostamente, a melhor do mundo. Os bolivianos contra-atacam com os 3.660 m de altitude de La Paz.
Mesmo sem a abundância de craques e a tradição do Brasil, a Bolívia possui um retrospecto altamente favorável jogando em sua capital administrativa (Sucre é a capital legal do país).
A seleção boliviana fez 58 jogos em La Paz. Venceu 33 (56,8%), empatou 12 (20,6%) e perdeu apenas 13 (22,4%). Marcou 110 gols e sofreu só 68.
A seleção brasileira disputou três jogos na cidade contra os locais. Perdeu de 2 a 1, em 79, venceu pelo mesmo placar, em 81, e caiu por 2 a 0, em 93 -desde então o Brasil não é batido na América do Sul.
A Bolívia não perde em seu principal reduto desde 13 de junho de 93, quando foi derrotada por 3 a 1 pelo Chile.
Os chilenos, aliás, são os únicos a levar vantagem no confronto direto contra os bolivianos em La Paz, entre as seleções do continente americano. Venceram quatro vezes, perderam duas e empataram uma.
Para alguns, a explicação do sucesso do Chile nos duelos com a Bolívia é a aclimatação -os chilenos estariam acostumados a jogar nos Andes. Para outros, é gratidão dos bolivianos -foi o chileno Leoncio Zuaznabar que difundiu o futebol na Bolívia, ao fundar em 1896 o Oruro Royal, primeiro time boliviano.
Com a força da Bolívia como anfitriã e o potencial ofensivo do Brasil, fica difícil saber quem vai matar e quem vai morrer hoje. O certo é que a morte será por asfixia, ou pela simples falta de oxigênio ou pela inspiração de Ronaldinho.

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