São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Sputinik lançou a idéia

ESPECIAL PARA A FOLHA

Em meados do século 20, os astrônomos tomaram consciência da dificuldade de aperfeiçoar a precisão das medidas de posição das estrelas, em virtude de duas grandes dificuldades.
Por um lado, a presença da atmosfera, massa gasosa espessa com dezenas de quilômetros, que envolve a Terra e deforma de modo inevitável as imagens das estrelas e afeta todas as medidas realizadas a partir do solo. Por outro lado, a deformação mecânica dos instrumentos de observação, em razão do seu próprio peso e das variações de temperatura, difíceis de serem controladas do solo.
Em 1957, o sucesso do lançamento do primeiro satélite artificial -Sputnik 1- mostrou a existência de uma nova possibilidade técnica: realizar observações automáticas, no vazio do espaço, acima da atmosfera e na ausência da gravidade. A solução espacial seduziu os astrônomos no mundo inteiro.
Em 1965, o astrônomo francês Pierre Lacroute, do Observatório de Estrasburgo, sugeriu a idéia de satelizar ao redor da Terra um telescópio astrométrico.
Durante 14 anos, a idéia foi discutida e profundamente alterada antes que fosse aceita, em 1980, pela Agência Espacial Européia como um projeto científico com o nome de Hipparcos.
Seu objetivo: medir, com uma extrema precisão, a posição de um grande número de estrelas, assim como a evolução de suas posições com o tempo. Todos os dados deveriam ser reagrupados, a fim de constituir dois grandes catálogos de estrelas. O projeto previa a utilização de um telescópio instalado em um satélite geoestacionário, ou seja, colocado em uma órbita circular, a 36 mil km acima do equador terrestre.
A tal distância, o Hipparcos deveria se deslocar com a mesma velocidade angular da Terra e, portanto, permanecer imóvel no céu.
Nessas condições, uma única estação no solo seria suficiente para manter o contato via rádio com o satélite, transmitir as ordens (telecomando) e receber suas medidas (telemedidas).
O satélite foi concebido para girar lentamente sobre si mesmo à razão de uma volta completa em aproximadamente duas horas.
Simultaneamente foi prevista a possibilidade de alterar regularmente a direção do seu eixo de rotação por telecomando. Assim o telescópio poderia -durante os 30 meses de sua missão- varrer várias vezes toda a esfera celeste.
Construído na Europa, o Hipparcos foi transportado por avião de Toulouse para a base espacial de Kourou, na Guiana Francesa, em 8 de junho de 1989, dois meses antes do seu lançamento.
Os dados obtidos pelo Hipparcos -de 1989 a 1997- permitiram fazer dois catálogos de estrelas distribuídas uniformemente sobre a esfera celeste: o catálogo Hipparcos e o catálogo Tycho, que compreendeu a observação de pelo menos um milhão de estrelas.
Os resultados obtidos pelo Hipparcos foram consideravelmente superiores em precisão aos obtidos até hoje pelos catálogos existentes. As medidas feitas por ele também permitiram fazer uma cobertura homogênea do céu por um mesmo e único instrumento, o que conduziu a uma continuidade perfeita entre as estrelas dos hemisférios celestes boreal e austral.

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