São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Alvo da política 'um país, dois sistemas', Taiwan rejeita a fórmula de Hong Kong

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Os aliados de Pequim em Hong Kong argumentam que o regime comunista vai se esforçar para respeitar a fórmula "um país, dois sistemas" porque planeja usar o mesmo caminho para obter a reunificação com Taiwan.
A "ilha rebelde", no entanto, rejeita a fórmula aplicada em Hong Kong e reafirma sua disposição de voltar ao controle de Pequim apenas depois da democratização da China.
Em 1949, o Partido Comunista venceu a guerra civil chinesa, e os nacionalistas, derrotados, encontraram refúgio na ilha de Taiwan. Mantiveram o sistema capitalista e construíram uma das economias mais dinâmicas do continente, o que garantiu a Taiwan o rótulo de "tigre asiático".
Pequim declara que não abre mão da reunificação e classifica Taiwan como uma "ilha rebelde". A fórmula "um país, dois sistemas", que vai permitir a Hong Kong manter seu sistema capitalista por 50 anos, foi concebida em Pequim inicialmente para convencer Taiwan a aceitar a reunificação.
"Somos completamente diferentes de Hong Kong, socialmente, politicamente, militarmente", declarou John Chang, ministro das Relações Exteriores de Taiwan. "Se Hong Kong permanecer estável, isso não significa que a fórmula 'um país, dois sistemas' possa ser vendida a nós."
A China já anunciou que, depois de recuperar Hong Kong e, em 1999, Macau, um território chinês sob administração portuguesa, vai pressionar Taiwan a aceitar um cronograma para estabelecer os passos da reunificação.
O presidente chinês, Jiang Zemin, avalia que recuperar Taiwan lhe garantiria um lugar na história, ao lado de Mao Tse-tung, o líder da Revolução de 1949, e de Deng Xiaoping, o patriarca das reformas pró-capitalismo lançadas em 1978 e arquiteto dos acordos que levaram à cerimônia de amanhã.
"Nós ainda vamos escolher nosso próprio caminho para o futuro", afirma o chanceler Chang. Para demonstrar a resistência da "ilha rebelde" às iniciativas comunistas, Taiwan rejeitou em março proposta de Jiang Zemin de oferecer a rivais o posto de vice. "Se podemos ganhar uma eleição para presidente, por que deveríamos aceitar a vice-presidência?", ironizou Chang.
A China busca manter Taiwan sob pressão. Tenta isolá-la diplomaticamente e não abre mão da promessa de invadir a ilha, caso o governo do presidente Lee Teng-hui renuncie ao objetivo da reunificação e declare a independência de Taiwan.
A China também interrompeu o diálogo semi-oficial que mantinha com Taiwan depois de o presidente Lee Teng-hui visitar os EUA em 1995. Pequim interpretou a viagem como parte de um plano para ampliar a presença internacional da ilha e levá-la à independência.
Aproximação
Jornais de Taiwan, no entanto, levantaram há duas semanas a possibilidade de a cerimônia de devolução de Hong Kong marcar o início de uma reaproximação entre os dois rivais. Representantes da China e de Taiwan poderiam ter um "encontro informal" em Hong Kong, que marcaria a volta do diálogo iniciado em 1993.
Taiwan espera que a China permita à "ilha rebelde" manter seus laços econômicos com Hong Kong. Pequim deve corresponder às expectativas, pois Hong Kong representa a principal porta de entrada para os investimentos de Taiwan no mercado chinês.
A China também teme o exemplo da democracia de Taiwan. No ano passado, a "ilha rebelde" elegeu, pela primeira vez, um presidente em eleições diretas. Lee Teng-hui conseguiu a reeleição e se tornou o primeiro presidente escolhido por meio de uma votação democrática em 5.000 anos de história chinesa.

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